por Frei Rodrigo Péret, ofm
Há mais de 36 anos, uma contaminação por bário,
metal pesado, continua adoecendo e matando pessoas, em Araxá, Minas Gerais.
Fruto de uma infiltração ocorrida na Barragem B4 da CBMM (Companhia Brasileira
de Metalurgia e Mineração).
As barragens de rejeitos de mineração matam e destroem não só quando rompem. As empresas mineradoras, através das
barragens, cometem um crime silencioso e constante. Vamos através de alguns
artigos falar desse crime silencioso, Neste primeiro artigo tratamos o caso da
CBMM, Araxá.
Em 1982, ficou constatada a contaminação
das águas subterrâneas e superficiais por bário, proveniente das águas que se infiltraram depois de
percolar rejeitos contendo cloreto de bário da Barragem B4,
pertencente a CBMM.
Em 27 de agosto de 2018 lemos no site no
Ministério Público de Minas Gerias (MNPMG) sobre Convenio firmado com a CBMM:
" A companhia é responsável pela contaminação de lençóis hídricos
subterrâneos com substâncias químicas oriundas de fontes antrópicas, verificada em 1982, quando foi
identificada a presença de bário solúvel
acima das concentrações naturais nos
corpos hídricos dentro e a jusante da Barragem 4 da CBMM.
Desde então, a empresa vem implementando um
conjunto de medidas mitigadoras, sem, no entanto, concluir o processo de
remediação ambiental desenvolvido no âmbito do Convênio, Termo de Compromisso,
Termo de Acordo e Termo de Aditamento de Acordo, firmados respectivamente com o
Estado de Minas Gerais, com o município de Araxá e com o Ministério Público, no
Inquérito Civil instaurado pela 1ª promotoria de Justiça de Araxá."
Entenda a questão:
Na região
do Barreiro, em Araxá, “os elevados
teores de bário começaram a ser detectados em 1982, após análises da água do
lago da barragem B4 que recebia os efluentes do processo de beneficiamento do
minério de nióbio. Para a concentração do minério, o pirocloro (BaNb2O6) era
calcinado com cloreto de cálcio onde o bário é substituído pelo cálcio
formando, como um dos produtos finais, cloreto de bário (BaCl2) que é um sal
altamente solúvel. O cloreto de bário era então descartado e lançado na
barragem de rejeito B4, juntamente com outros resíduos. A partir da massa de
rejeito, o bário contaminou as águas superficiais e, principalmente, as
subterrâneas.” (AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO
HIDROGEOLÓGICO DOS AQÜÍFEROS DE ÁGUAS MINERAIS DO BARREIRO DO ARAXÁ, MG –
BRASIL. Anais do1st Joint World Congress on
Groundwater, ano 2000).
Em 16 de setembro de 2015, denunciávamos em artigo publicado
aqui, no Fala Chico, "Complexo
hidromineral de Araxá ameaçado”:
" De acordo com Nota Técnica número 1
da Fundação Estadual do Meio Ambiente -(FEAM) e do Instituto Mineiro
de Gestão das Águas (IGAM), de julho de 2015, a concentração de metais pesados
está seis vezes acima do permitido. A causa da contaminação da água se encontra
na exploração de nióbio pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração –
CBMM, que não respeita normas e legislação”
Segundo a FEAM, nesta Nota
Técnica, a contaminação das águas vem
ocorrendo desde a década de 80. Estudos apontam que a contaminação das águas do
complexo do Barreiro, em Araxá ocorre pela liberação de bário no ambiente,
decorrente da exploração do nióbio na região, atividade explorada pela CBMM.
Por solicitação da FEAM, a empresa iniciou um monitoramento e atividades, em
1984, que não foram adequadas para conter a contaminação. O resultado é que a
tentativa de solução levou a outras contaminações, com a elevação dos níveis de
sódio, sulfato e cloreto. A contaminação afeta águas subterrâneas e
superficiais, além do solo e subsolo.
A nota técnica FEAM / IGAM ainda
afirma que os relatórios da CBMM não são suficientes e carecem de detalhamento
e cálculos, que demonstrem suas afirmações; que o monitoramento da CBMM é
inadequado e não suficiente; que existem mapas elaborados de maneira
inadequada; que se constatam dados faltantes nos relatórios apresentados pela
CBMM; que existem pendencias da CBMM em relação à pedidos da FEAM; que
a técnica de remediação da contaminação de bário é questionável pela sua
baixa eficiência e a própria remediação está gerando problemas, subprodutos das
reações, que são contaminantes (sulfato, sódio e cloreto); A Nota Técnica
ainda ressalta que não são atendidas normas exigidas pela ABNT.
A empresa CBMM, não nega a contaminação e pode
ser constatado tal fato no Parecer Único – Protocolo nº 615703/2007, dirigido a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Superintendência Regional de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, em que justifica a
mudança no seu modo de operar, pelo seguinte: “... Com a mudança do processo, o
efluente rico em cloretos (em média 50m3/h), que não favorecia a remediação da
contaminação do bário, (....) As atividades de remediação da
contaminação de bário solúvel a jusante da Barragem B-4 são
desenvolvidas de acordo com definições acordadas em convênio com o Governo
Estadual, assinado em 10 de julho de 1984. (...) Desde a década de 80 são
encaminhados semestralmente a FEAM relatórios de acompanhamento das
atividades”.
Drama dos moradores
Na Comarca de Araxá tramitam mais
de 500 processos com pedidos de indenização por danos a saúde causado pela
contaminação da água. Muitas famílias vêm sofrendo com diversos tipos de
doenças, como câncer, doenças renais e cardiovasculares. Nos últimos seis anos,
somente das famílias que entraram com ação judicial, 30 pessoas já morreram de
câncer.
Cerca de 200 famílias que vivam
na região do Complexo do Barreiro, no chamado Alto Paulista e adjacências,
tiveram que sair de suas casas após a descoberta da contaminação. As famílias
que lá moravam utilizavam água imprópria para o consumo humano há anos. Através
da Associação dos Moradores do Barreiro, essas famílias conseguiram na Justiça
que a Prefeitura da cidade fornecesse água mineral aos moradores que ainda
residem lá.
Os danos à saúde das pessoas, nesses 36 anos são enormes e
irreparáveis.
O Drama continua
Em maio de 2018, a Justiça julgou serem improcedentes as 517
ações propostas contra a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM),
Bunge e Vale Fertilizantes, em que os autores alegavam a contaminação das águas
subterrâneas na região do Barreiro. Segundo as ações, essa contaminação teria
sido feita pelas empresas e desencadeado diversos problemas de saúde nas
pessoas que residiam no Barreiro. A sentença afirma que não houve a
comprovação da contaminação das águas.
As famílias que entraram com a ação viviam na região do Complexo do Barreio e não
só as da rua Alto Paulista, como versa na sentença, recorram dessa decisão
do juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Araxá.
Não bastasse as notas
técnicas de 2015, da FEAM e do IGAM e o novo Termo de Convênio entre Ministério Público de
Minas Gerais (MPMG) por meio do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente
(Caoma) e da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente de Araxá firmando com a
Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), em 27 de agosto de 2018, deixar claro
que a contaminação existe, as famílias continuam numa luta sem tréguas para na
justiça.
Frei Rodrigo Péret, ofm
A base de segurança de todo o complexo das mineradoras no Brasil, encontram se obsoleto; esse modelo já foi banido da Europa, há muitos anod.
ResponderExcluirDos grandes aos pequenos, das mineradoras aos maridos violentos a injustiça se faz mais presente do que a justiça e bom senso. Que tristeza.
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