quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Agravam as ameaças sofridas por atingidos da Anglo American em Conceição do Mato Dentro (MG)


NOTA



AGRAVAMENTO DAS AMEAÇAS SOFRIDAS POR ATINGIDOS DA ANGLO  AMERICAN NA REGIÃO DE CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO 

A Rede Igrejas e Mineração vem manifestar em público sua preocupação com o agravamento dos episódios de agressões e ameaças que vem ocorrendo, na região de Conceição do Mato Dentro (MG), no contexto da votação do licenciamento prévio e de instalação da "Etapa 3" do empreendimento Minas-Rio, da Anglo American. Esta votação está prevista para o próximo dia 22 de Dezembro, em Belo Horizonte. As notícias que nos chegam são preocupantes, com o relato de um caso de agressão física, e outro de vigilância constante (o que constitui ameaça velada), às comunidades atingidas que participam da luta pelo reconhecimento de seus direitos. A quem interessa intimidar e ameaçar?

Entrevistas recentes dos dirigentes da Anglo American, não contribuem para atenuar o clima de insegurança. Ao contrário, afirmações de que, um suposto "atraso", no processo de licenciamento, irá provocar demissões em massa, só contribuem para aumentar a tensão e insuflar animosidades.  È um direito das comunidades exercer uma participação política responsável, agindo dentro da legalidade, em prol do devido acesso às informações e da representação qualificada.

Lembramos que, segundo o que consta originalmente no próprio processo licenciado, a "Etapa 3" deveria se iniciar apenas em 2024. A “Rede Igrejas e Mineração” informa que permanecerá monitorando a situação em Conceição do Mato Dentro e região, e espera que tanto a Anglo American, quanto os Governos federal, estadual e local, adotem posturas e medidas que garantam os direitos e a integridade das comunidades atingidas, bem como evitem licenciar um projeto que causa danos à saúde humana e à biota local. 

O Parecer Único 1375747/2017, do SISEMA, que foi disponibilizado na reunião, da Câmara Técnica Especializada de Atividades Minerárias – CMI, do Conselho de Política Ambiental de MG, em 11 de dezembro de 2017, destaca: “Não se pode tolerar a extrapolação frequente dos limites legais estabelecidos na legislação vigente, que podem resultar em danos à saúde humana e à biota local", situação que "tem repercussão na tutela ambiental administrativa, e até mesmo na civil e penal” (página 282). Esse mesmo parecer reconhece, que: “a profunda alteração da qualidade das águas identificadas à jusante da barragem de rejeitos, no curso d’água denominado “Córrego Passa Sete”, que compromete os usos múltiplos do recurso hídrico de comunidades abaixo do barramento.”

É intolerável que as comunidades continuem sofrendo intimidações e ameaças. É imperativo respeitar, sobretudo a vida e o direito daqueles que sofrem as consequências danosas da operação desse megaempreendimento minerário.
20 de dezembro de 2017

“Rede Igrejas e Mineração”

sábado, 16 de dezembro de 2017

JUFRA: Juventude Franciscana denuncia degradação ambiental sofrida pelo rio Paranaíba

O rio Paranaíba é um dos rios que mais sofre com as ações e investidas dos assim chamados grandes empreendimentos. Perdeu cerca de 60% da vazão, nas últimas décadas. A bacia hidrográfica do Paranaíba que inclui os estados de  MG, GO, MS e o DF.  É impactada por inúmeras grandes e pequenas hidrelétricas, mineradoras, destilarias de álcool, grandes monoculturas e especulação  rural-imobiliária. O bioma predominante é o Cerrado. Essa bacia drena uma área com cerca de 220 mil km2, com quase 8,5 milhões de habitantes em 196 municípios, além do Distrito Federal, incluindo 5 no Mato Grosso do Sul, 55 em Minas Gerais, onde ocupa 12,2% do território, e 136 em Goiás, onde é a principal bacia em área e ocupação antrópica.

MANIFESTO DE REPÚDIO

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água, que é muito útil, humilde, preciosa e casta.”
Cântico das Criaturas

A Juventude Franciscana – JUFRA é uma organização de caráter e objetivos religiosos, regida por normas aplicáveis da Igreja Apostólica Romana, a qual se constitui como sociedade civil, de direito privado, de caráter e objetivos exclusivamente religiosos, educacionais e sociais, sem fins lucrativos e sem objetivos político-partidários, com personalidade distinta de seus membros.

À luz do carisma franciscano, compreendemos que se faz necessário construir um novo horizonte utópico que nos comprometa com a construção de um projeto de País com justiça e paz em respeito à integridade da criação.

Na Constituição Federativa da República Brasileira, a proteção do meio ambiente e salvaguarda da sadia qualidade de vida são asseguradas através da implementação de políticas públicas. Desse modo, seu artigo 225 preceitua que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”. Assim, tal dispositivo legal exerce o papel norteador do meio ambiente devido a seu complexo teor de direitos, mensurado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Como se sabe, a Água é um recurso ambiental fundamental para a qualidade de vida da população, e possui múltiplas funções, uma vez que é um recurso estratégico para o desenvolvimento econômico, é indispensável para a manutenção dos ciclos biológicos, geológicos e químicos, que mantêm em equilíbrio os ecossistemas, dentre outros. Porém, tal recurso apresenta grandes problemas que se assolam ao longo dos anos, exemplos disso são; seu uso indiscriminado e desenfreado que vem sendo praticado há tempos sem qualquer preocupação com sua poluição; o uso da água para irrigação de lavouras, beneficiando o agronegócio em detrimento a população; a poluição provocada pelo agronegócio com o uso abusivo de inseticidas.

A Conferência da Família Franciscana do Brasil, reunida no Capítulo Nacional das Esteiras, afirma: “Dessa Cidade de Aparecida, Nossa Senhora, Padroeira do Brasil, resgatada das águas de um rio, hoje poluído e degradado, nos faz eleger dentre os diversos apelos um compromisso particular com a Irmã Água. Deste modo, nos empenharemos na construção de um processo de reflexão e ação em defesa da água como bem comum, que se dará através da participação da família em jornadas, fóruns e nas iniciativas de fortalecimento dos trabalhos ligados à promoção da Justiça e da Integridade da Criação.” Assumimos como consequência deste Capítulo, o grito de salvação do Irmão Rio Paranaíba.

Com sua vocação profética, a JUFRA do Distrito I de Minas Gerais (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) vem a público DENUNCIAR a degradação ambiental sofrida por toda extensão do Rio Paranaíba, bem como das matas ciliares, afluentes e áreas adjacentes.

Na data de 10 de dezembro de 2017, em um encontro intitulado como “JUFEST” realizado na cidade de Patos de Minas/MG as fraternidades (grupos) de Carmo do Paranaíba/MG, Lagoa Formosa/MG, Uberlândia/MG, Araguari/MG e Patos de Minas, presentes neste encontro visitaram o leito do Rio Paranaíba que corta o município sede do evento e demais cidades da região, os jovens presentes ficaram indignados com tamanho descaso com a água, símbolo de vida. Durante a visita, pôde presenciar grande quantidade de lixo na margem do Rio, bem como esgoto a céu aberto e lançamento do esgoto no Rio.

Por fim, ante a situação caótica do Rio Paranaíba é imperioso ressaltar acerca do tratamento de esgoto dos municípios e abastecimento de água, os quais carecem de cuidado e atenção pelas Companhias e Autarquias de Água, que cobram taxas exorbitantes por um serviço que sequer é prestado com qualidade.

Ante o exposto, DENUNCIAMOS os Poderes Públicos Municipais, os quais tem a obrigação de fiscalizar os serviços prestados, bem como as Companhias de Saneamento e Abastecimento de Água dos municípios do Triângulo e Alto Paranaíba, as quais detém através de contratos o controle de saneamento e tratamento de dejetos.

E, EXIGIMOS das autoridades, ora competentes, meios para a solução dos problemas acima elencados, através de audiências públicas, com a inserção efetiva da comunidade, onde a população possa ser ouvida. SOLICITAMOS também a fiscalização efetiva dos executivos municipal em relação aos serviços prestados pelas Companhias de Saneamento, Abastecimento de Água e Tratamento de Esgoto dos municípios e revisão de todos os contratos.

Patos de Minas, 15 de Dezembro de 2017.

Assinam essa nota:
JUVENTUDE FRANCISCANA DE MINAS GERAIS – DISTRITO I
Conferência da Família Franciscana do Brasil - CFFB
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES
Secretária Nacional de Direitos Humanos, Justiça, Paz e Integridade da Criação – JUFRA DO BRASIL
Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia – SINFRAJUPE
Movimento Católico Global pelo Clima – MCGC
Comissão Pastoral da Terra – CPT Triângulo

*Esta ação tem por orientação a prática do compromisso "Viva Laudato Si", firmado pelos integrantes da JUFRA, que estabelece zelar pelo cuidado da casa comum, o que implica estabelecer metas e ações conjuntas contrárias a qualquer tipo de degradação do meio ambiente e desequilíbrio da qualidade de vida, haja vista que a criação necessita de respeito e cuidado pautado na conversão ecológica.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Nota: Apoio da Família Franciscana do Brasil à greve de fome contra a Reforma da Previdência

A Conferencia da Família Franciscana e o Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia se solidarizam com a greve de fome, agricultores(as) e trabalhadores(as) urbanos estão tendo seus direitos sociais destruídos. A Greve de Fome completa seu oitavo dia na Câmara dos Deputados em Brasília como forma de repúdio a Reforma da Previdência que é um ataque aos trabalhadores do campo e da cidade, e que poderá ser votada a qualquer momento. Leia a integra da nota.


Conferência da Família Franciscana do Brasil - CFFB


Brasília, 12 de dezembro de 2017
Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina

Irmãos e Irmãs, 

O Senhor lhe dê a paz! A CFFB – Conferência da Família Franciscana do Brasil e o SINFRAJUPE – Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia se solidarizam com, Josi Costa, Leila Denise, Simoneide de Jesus, o nosso confrade franciscano Frei Sérgio Görgen do MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores, com Fabio Tinga do MTD - Movimento dos Trabalhadores por Direito, com Rosangela Piovizani e Rosa Jobi do MMC – Movimento de Mulheres Camponesas que desde o dia 5 de dezembro realizam uma greve de fome em repúdio à reforma da previdência que o governo ilegítimo de Michel Temer está querendo votar.

Entendemos que esta reforma é um duro ataque aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade e que afetará diretamente milhões de brasileiros que não terão acesso a aposentadoria.

A Greve de Fome é uma ação legítima, ética e corajosa, em um momento de retrocesso e retirada de direitos. A Reforma da Previdência é criminosa e perversa, além do fato de estar sendo promovida por um governo ilegítimo, comprando um Congresso desmoralizado num verdadeiro balcão de negócios. Diante disso, estamos junto a vocês na luta contra a reforma da previdência, e convocamos os irmãos franciscanos e irmãs franciscanas e a toda sociedade civil brasileira a se unirem e irem às ruas contra esse crime que o governo ilegítimo de Temer está cometendo.

Fraternalmente,

Frei Éderson Queiroz

Presidente da Conferência da Família Franciscana do Brasil - CFFB

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

GT da Mineração da CNBB se reúne para avaliar ação e traçar novo planejamento

O Grupo de Trabalho(GT) da Mineração, criado pelo Conselho Permanente no âmbito da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reúne-se neste dia 6 de dezembro pela segunda vez com o objetivo de avaliar os passos desde a última vez em que se encontrou.
Em sua última reunião, realizada de 24 a 25 de julho, o GT além do aprofundamento da realidade, estabeleceu suas prioridades, ações e agenda de atividades. Entre as prioridades, está o mapeamento das regiões que mais sofrem os impactos da mineração, bem como os grupos que já atuam na área. O GT também traçou como meta publicar textos e materiais mais robustos e incisivos para mobilizar e dar visibilidade ao tema junto à Igreja no Brasil.
Papel do GT – Dom André de Witte, bispo de Rui Barbosa (BA), vice-presidente da
Dom André de Witte, bispo de Rui Barbosa (BA):
“Nosso papel é cobrar que não aconteçam acidentes”
Comissão Pastoral da Terra (CPT), que também acompanha o trabalho do GT da Mineração, destaca que a partir da avaliação dos avanços, o grupo traçará o planejamento dos próximos passos para 2018.
Segundo ele, para quem vê a realidade do ponto de vista do trabalho de Evangelização de uma conferência e da perspectiva de Jesus que veio para que todos tivessem vida, é necessário combater os projetos que ameaçam a vida. E parte destes projetos são ligados à extração de minerais em território brasileiro. “Estes estão chegando, como rolo compressor, na realidade dos pequenos que sofrem e perdem condições, um exemplo é Mariana e a morte do Rio Doce”.
As exortações do papa Francisco e suas propostas de preocupação com a casa comum da humanidade contribuem para dar o rumo e o horizonte de atuação da Igreja neste campo, aponta o bispo. “Nosso papel é nos posicionar e cobrar atitudes que evitem acidentes e ameaças ao meio ambiente. O grupo de trabalho deve ser o instrumento para dar passos concretos nesta direção”, disse.
FONTE: CNBB

sábado, 25 de novembro de 2017

Família Franciscana do Brasil lança cartilha sobre a água

No ambito da Semana de Direitos Humanos, 1 a 10 de dezembro, se celebra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 10 de dezembro de 1948. Este ano, quando a declaração comemora 69 anos, a 8ªJornada de Direitos Humanos da Juventude Franciscana do Brasil, se dedica à questão da Água e Direitos. O lema, escolhido foi retirado do Cantico das Criaturas de São Francisco de Assis: "Louvado sejas meu Senhor, pela Irmã Água"Este ano essa Jornada foi assumida por toda Família Franciscana do Brasil, como uma ação no campo da reflexão religiosa de fé, para colaborar na construção do  Fórum Alternativo Mundial da Água - FAMA, que acontecerá de 17 a 22 de março de 2018, em Brasília. O FAMA é uma iniciativa da sociedade civil para se contrapor ao que pretende se contrapor ao Fórum Mundial da Água, promovida na mesma época, pelas corporações responsáveis pela privatização e transformação da água em mercadoria. Para baixar a cartilha e materiais clique aqui

Carta de Apresentação da Cartilha

Queridas irmãs, queridos irmãos,
paz e bem!

A nossa Jornada Franciscana Nacional pelos Direitos humanos chega à sua oitava edição. Com o tema “Água e Direitos” e lema “Louvado Sejas, meu Senhor, pela irmã Água”, nos empenharemos em um processo de reflexão e ação em defesa da água como bem comum, contra sua privatização, buscando viver nossa missão profética na defesa da vida em todas as suas dimensões.

Neste ano, a Jornada será assumida por toda a Família Franciscana do Brasil. Durante o Capitulo da Esteiras realizado pela Conferência da Família Franciscana do Brasil, franciscanas e franciscanos assumiram a JFNDH como compromisso de trabalho. “Dessa cidade de Aparecida, Nossa Senhora, Padroeira do Brasil, resgatada das águas de um rio, hoje poluído e degradado, nos faz eleger dentre os diversos apelos um compromisso particular com a Irmã Água. Deste modo, nos empenharemos na construção de um processo de reflexão e ação em defesa da água como bem comum, que se dará através da participação da família em jornadas, fóruns e nas iniciativas de fortalecimento dos trabalhos ligados à promoção da Justiça e da Integridade da Criação” (Carta de Aparecida).

Resoluções das Nações Unidas reconhecem que a água é um direito fundamental. Não há vida sem água e ela é um bem comum que deve ser compartilhado entre toda a humanidade e os seres vivos. Segundo o Papa Francisco, “Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares cresce a tendência para se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos.

Nesse grave contexto, inspirados pelo Francisco de Assis e o Francisco de Roma, assumimos o nosso carisma franciscano na defesa da nossa casa comum, contra a mercantilização da água e a transformação desse direito em um recurso inalcançável para muitas populações, principalmente as mais pobres e marginalizadas. Que esta jornada fortifique nossas fraternidades e comunidades no cuidado e na defesa da água, que os diversos ramos de nossa família franciscana se unam com outras organizações e movimentos religiosos e não-religiosos, para garantir que a água continue sendo, de fato, fonte abundante de vida, direito humano e da natureza.

Fraternalmente,

Frei Éderson Queiroz
Presidente da Conferência da Família Franciscana do Brasil
Washington Lima
Secretário Fraterno Nacional da Jufra do Brasil
Igor Bastos

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Anglo American: chantagem em Conceição do Mato Dentro (MG)

Recentemente a Anglo American vem comunicando, no Brasil e no mundo, que se a licença ambiental da etapa 3 de expansão, do Projeto Minas Rio, não sair do papel no mês de dezembro deste ano, terá de paralisar suas atividades de extração, na região de Conceição do Mato Dentro (MG), em setembro de 2018. A direção da empresa afirma que além da complexidade do projeto, “contribuíram para os atrasos consecutivos os pedidos do Ministério Público e o adiamento de audiências públicas”. (Entrevista Jornal Hoje Dia, 20/11/2017)

Contudo, a Anglo American omite o fato de que no empreendimento Minas-Rio ela mesma  falta com a transparência e impõem mudanças constantes em seus projetos, estudos e ritmos. Isso impede que a população compreenda o tamanho real do empreendimento e quais são os reais  impactos.

Lamentar agora que a chamada etapa 3 (o chamado Step 3) tem de ter seu licenciamento aprovado em dezembro de 2017, se não as atividades serão paralisadas em algum momento em 2018 é escamotear que essa etapa 3 só deveria, na realidade, iniciar em 2024.

O que, então, ocorreu para que a Anglo já esteja reivindicando a etapa 3 de expansão, quando ainda deveria estar na primeira etapa (Step 1)?  

A Licença de Operação concedida em novembro de 2014 prevê atividades por 5 anos (Step 1). O que significa que a primeira etapa terminaria em 2019. Contudo, a Anglo antecipa e obtém licença para o Step2 em outubro de 2016. Novamente,  um ano após iniciar a etapa 2, que deveria durar também mais 5 anos, requer o processo para licenciamento do Step 3. Na realidade estão antecipando 10 anos, a etapa 3 deveria iniciar só em 2024.

No Estudo de Impacto Ambiental em que se baseou a aprovação da Licença Previa do Projeto Minas-Rio, que contempla ritmos de 5 em 5 anos, propunha a disposição da maior parte dos estéreis no interior da cava da mina, à medida que esta avançasse em direção ao sentido Sul da Serra da Ferrugem. Portanto, não haveria necessidade de novas áreas para pilhas de estéril. Porém, o pedido de expansão, etapa 3 (Step 3) diz que haverá mais pilhas de estéril.

As comunidades atingidas, ao saberem disso, reagiram através da Rede de Articulação dos Atingidos do Projeto de Mineração Minas Rio (REAJA), contestando essa mudança. Em outubro de 2017, encaminharam uma representação ao Ministério Público, na qual se lê “...a empresa propõe agora expandir seu projeto, modificando radicalmente o layout ou estruturas de cava e PDEs (pilhas de estéril) submetidos ao licenciamento prévio. A área da cava tem sua largura duplicada e a PDE é, de acordo com o novo projeto, expandida fora da cava, portanto ampliando significativamente os impactos para o entorno, especialmente a Leste da proposta inicial. Além disso, a modificação do projeto inicial configura  alteração nos planos de lavra, além de modificação no plano de recuperação das cavas, antes prevista para iniciar-se no 5º ano.” 
De fato as comunidades atingidas se opõem baseadas no próprio licenciamento obtido pela Anglo. Conforme informações contidas no  Parecer Único SISEMA N.º 001/2008 Processo COPAM N.º 00472/2007/001/2007  - pag 10 – no projeto original do EIA 2008, estava previsto: “ uma única pilha de estéril externa a cava da Serra do Sapo / Ferrugem, totalizando uma área de 162,5ha, que deverá conter o estéril gerado nos 5 primeiros anos de lavra. Posteriormente, o estéril gerado será depositado no interior da cava, promovendo desta forma a recuperação da área minerada”;

E mais adiante:
“A fase inicial de lavra propriamente dita, ou seja, os 5(cinco) primeiros anos será marcada pela semi-explorarão da serra do Sapo, com formação de uma cava com extensão aproximada de 1800m de comprimento por 900m de largura, em área abrangida pelas poligonais DNPM nº 832 979/02 e 830 359/04. Posteriormente, as atividades serão realizadas na porção norte da serra, vertente leste, com desenvolvimento para sul. Estima-se que, a partir do 4° ano, a conformação dessa cava já possa permitir a disposição do material estéril em seu interior, cessando, assim, a necessidade de disposição de material em pilha externa. (Parecer Único SISEMA N.º 001/2008 Processo COPAM N.º 00472/2007/001/2007  - pag 13)
E ainda em outro trecho:
“A pilha de estéril projetada deverá receberá material proveniente do decapeamento até o quinto ano. Após este período a deposição do estéril será direcionada ao interior da cava, iniciando, desta forma, sua recuperação. Os impactos relacionados à formação da pilha de estéril estão associados à alteração das características do solo; geração de processos erosivos, podendo acarretar carreamento de sólidos, com assoreamento de cursos d’água, e aumento na emissão de efluentes atmosféricos e no nível de ruídos, durante a fase de implantação e operação. (Parecer Único SISEMA N.º 001/2008 Processo COPAM N.º 00472/2007/001/2007 fls. 59).
A representação das comunidades junto ao Ministério Público aponta ainda para a gravidade dessas mudanças, ao relembrar que:
“Pilhas de Estéril (PDEs), assim como barragens de rejeitos, concentram grande volume de sedimentos, causadores de assoreamento e mortandade da biota aquática (especialmente nas estações chuvosas), aterram nascentes, interferem na recarga hídrica, implicam na supressão vegetacional bem como de comunidades e atividades humanas pré-estabelecidas nos locais onde são implantadas. Tal potencial de impacto é por exemplo relatado no volume VII do EIA de mina proposta pela mineradora Manabi (atual MLog) para o município de Morro do Pilar, vizinho a Conceição do Mato Dentro.”
“”Como é sabido, a bacia do rio Santo Antônio é o maior santuário de peixes de água doce da bacia do rio Doce (cerca de 89% das espécies de peixes do rio Doce, em Minas Gerais, x 38% registrados  nas lagoas da região do Parque Estadual do Rio Doce, local que, de acordo com tese defendida na UFMG em 2006.
 (http://pos.icb.ufmg.br/pgecologia/teses/T35_Fabio_Vieira.pdf), registra a segunda maior contribuição para a ictiofauna da bacia.

Essa prática de não respeito a ritmos, escalas e metódos aprovados é recorrente, no caso do Projeto Minas Rio. O rebaixamento do lençol freático que deveria iniciar-se no 5º ano de exploração mineira, teve o pedido de rebaixamento apresentado em março de 2014, mesmo antes da concessão da Licença de Exploração.

A Anglo American lamenta e ameaça a partir do que ela mesma causou.  Ao não respeitar a escala, os métodos e os ritmos de extração, que ela mesma havia se proposto e apresentado à sociedade e ao Estado para obter licenciamento, agora se diz em dificuldades e ameaça parar. Portanto, quando a direção da Anglo American aponta que foram as reuniões realizadas com as comunidades por exigência do Ministério Público  que atrasaram  a obtenção da licença que estava prevista para julho, esconde a realidade das coisas. Argumentar que a diminuição da produção  geraria a  inviabilidade financeira do empreendimento e alegar um suposto risco de “parar” e nas entrelinhas de “demitir”  é chantagear todos os envolvidos, e principalmente buscar dividir as comunidades locais, através do medo.


As licenças são concedidas tendo em vista estudos de impacto ambiental, relacionados ao empreendimento, que incluem a escala, os métodos e os ritmos de extração. A aceleração do ritmo da extração, no projeto Minas Rio, visou apenas mais lucro em menor espaço de tempo. Fica portanto uma pergunta: Os estudos apresentados pela Anglo American são falhos ou se trata de uma estratégia da empresa para manipular e enganar a população e o Estado?


Importante denunciar ainda, que nessa segunda feira dia 20, a Comunidade de Passa Sete denuncia nova mortandade de peixes no corrego Água Quente, que recebe efluentes da barragem de rejeitos do Projeto Minas Rio, que foi construída nesse corrego. É o terceiro caso de mortandade de peixes, só neste ano de 2017.