terça-feira, 25 de abril de 2017

Mineração em Conceição do Mato Dentro denunciada na assembleia da Anglo American em Londres

Com o apoio de uma rede de 30 organizações da Inglaterra, durante a Assembleia Geral da Anglo American, em Londres, foram feitas denuncias dos impactos do Projeto Minas Rio, em Conceição do Mato Dentro. Os questionamentos levados à direção global da Anglo e aos investidores pelo frei franciscano Rodrigo Péret da Rede Igrejas e Mineração e por Patrícia Generoso, atingida pelo projeto membro da Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos do Projeto Minas Rio. Ambos foram a Inglaterra a convite da Rede de Mineração de Londres (London Mining Network), em seguida deram uma entrevista na BBC.

As denuncias e questionamentos se basearam em documentos, representações da comunidade à órgãos públicos  e reportagens:

De acordo com os dados contidos no processo de licenciamento da Anglo American projeto Minas Rio utiliza 5.023 metros cúbicos de água por hora e sua atividade reduz o lençol freático e destrói as áreas de recarga e aquíferos, pois é na camada de minério de ferro que a água se acumula. Pelo menos seis comunidades já vivem com água bombeada e algumas ficam sem água por dias porque as nascentes secaram. O projeto está em uma sub-bacia do Rio Doce e suas águas são fundamentais para a recuperação da bacia após a ruptura da barragem de rejeitos de Samarco em novembro de 2015. Diante disso, a Anglo American manterá e continuará tentando expandir sua Projeto Minas Rio?

A barragem de rejeitos do Projeto Minas-Rio, com capacidade de 370 milhões de m3, é sete vezes maior que a barragem da Samarco que rompeu em 2015. Três comunidades abaixo da barragem do Minas-Rio estão em área definida como um "zona de auto-resgate ", porque não haveria tempo suficiente para as autoridades competentes intervirem em caso de acidente. O medo compreensível das pessoas foi alimentado pela ruptura de uma pequena bacia de contenção em Minas-Rio, em 2012, bem como pela ruptura da barragem de Samarco. A empresa não parece reconhecer o perigo enfrentado por essas comunidades, e a Etapa 3 prevê a elevação da barragem. A Anglo American pretende continuar ignorando o perigo e assumir sua responsabilidade civil e criminal se ocorrer um desastre? Se a mineração, segundo a documentação da Anglo American ainda continuará por mais 28 anos, e como com o Step 3, o mineroduto vai estar em sua capacidade máxima, qualquer nova expansão  exigirá um novo mineroduto, o que demandará mais água e mais impactos.

O empreendimento Minas-Rio é marcado por uma falta de transparência e mudanças constantes em seus projetos, estudos e ritmos. Isso impede que a população compreenda o tamanho real do empreendimento e seus impactos. (1) Por exemplo, embora a Licença de Operação concedida em novembro de 2014 prever atividades por 5 anos, a licença para o Step2 foi concedida em outubro de 2016. Somente um ano depois, ainda dentro do período de 5 anos previsto na primeira licença, o processo de licenciamento do Step 3 foi iniciado. (2) O rebaixamento do lençol freático deveria iniciar-se no 5º ano de exploração mineira, mas o pedido de rebaixamento  registo foi apresentado em Março de 2014, mesmo antes da concessão da Licença de Exploração. (3) Nos estudos iniciais foi argumentado que não haveria necessidade de novas áreas para pilhas de estéril. Mas o pedido do Step 3 diz que haverá mais pilha de estéril. Os estudos são falhos ou é uma estratégia de empresa para enganar a população e o Estado?

Reuniões públicas para lidar com assuntos relacionados ao empreendimento da Anglo American são marcadas pela presença ostensiva de policiais e outras formas de pressão. Demonstrações comunitárias pacíficas são suprimidas por uma força policial desproporcional e líderes comunitários são processados pela empresa. A empresa muitas vezes contrata policiais aposentados para a segurança corporativa, mantendo uma influência permanente sobre o sistema de segurança local. O Ministério Público Federal expressou preocupação com a militarização e o Ministério Público do Estado recomendou moderar o uso da força policial em manifestações pacíficas. O que isso nos diz sobre o entendimento da Anglo American sobre o direito de participar?


Em seguida foi lida uma denuncia contra as ameaças sofridas por representantes de organizações sociais, no caso da suspensão judicial da audiência pública, no dia 11 de abril passado.

CONVOCAÇÃO FRANCISCANA PARA AS MOBILIZAÇÕES DE 28 DE ABRIL

"Conferência da Família Franciscana do Brasil
Sinfrajupe – Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia
Juventude Franciscana do Brasil
CONVOCAÇÃO FRANCISCANA PARA AS MOBILIZAÇÕES DE 28 DE ABRIL:
NENHUM DIREITO A MENOS!
'Convocamos os cristãos e pessoas de boa vontade, particularmente nossas comunidades, a se mobilizarem ao redor da atual Reforma da Previdência, a fim de buscar o melhor para o nosso povo, principalmente os mais fragilizados'.

NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 287/16 – 'REFORMA DA PREVIDÊNCIA'
24 de abril de 2017
Queridas irmãs, queridos irmãos,
Paz e Bem!
Diante da atual conjuntura de retirada de direitos sociais da população e em resposta à convocação da CNBB para nos mobilizarmos contra a Reforma da Previdência, convocamos as irmãs e os irmãos a se juntarem na Greve Geral e nas mobilizações que ocorrerão na sexta feira, dia 28 de abril, em todo o Brasil.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 287/2016), o Projeto de Lei (PL 4.302/98) e a Reforma Trabalhista atingem diretamente a população brasileira através da Reforma da Previdência e da liberação da terceirização para todas as atividades. Tais reformas infringem os Art. 6º e 7º da Constituição Federal de 1988[i] e atacam os direitos sociais conquistados com muita luta pela sociedade civil.
Desta forma, em consonância com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Conferência dos Frades Menores do Brasil (CFMB) e a diversas outras entidades, instituições e organizações, também nos posicionamos com a população brasileira, em proteção dos direitos sociais e dos mais pobres e vulneráveis. Animem suas Comunidades e Fraternidades para discutirem e agirem acerca desta temática, pronunciando nas Celebrações, realizando momentos de jejum e oração, e participando dos atos públicos.
Consideramos as palavras do Papa Francisco: 'O amor [...] é também civil e político, manifestando-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre os indivíduos, mas também as macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos e políticos[ii]'.
Que neste tempo Pascal possamos superar todas as realidades de morte que ameaçam nossas vidas, cumprindo a nossa missão profética de fé cristã, nos unindo na construção de uma sociedade justa e fraterna.
Fraternalmente,
Frei Éderson Queiroz,OFMCap
Presidente da Conferência da
Família Franciscana do Brasil
Frei José Francisco,OFM
Diretor Executivo do Sinfrajupe
Washington Lima dos Santos,JUFRA/OFS
Secretário Fraterno Nacional da Jufra do Brasil
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo II
Dos Direitos Sociais: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si': Sobre o Cuidado da Casa Comum p. 173
Juventude Franciscana JUFRA) do Brasil

terça-feira, 18 de abril de 2017

Nota sobre o Cancelamento da Audiência Pública em Conceição do Mato Dentro

A REAJA - Rede de Articulação e Justiça dos Atingidos do Projeto Minas-Rio, organizações e cidadãos solidários, em respeito à população interessada nos fatos, desdobramentos e informações acerca das atividades e impactos do projeto da Anglo American, vêm esclarecer alguns fatos sobre o recente cancelamento de audiência pública.

Agendada para as 18 horas deste 11 de abril de 2017, em Conceição do Mato Dentro, para apresentação do projeto  de expansão da Mina do Sapo do projeto Minas-Rio, o chamado “Step 3”, a audiência pública foi suspensa por liminar concedida em ação popular movida contra o Estado de Minas Gerais, os municípios de  Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro e a mineradora Anglo American. A Justiça acatou as razões apresentadas, relacionadas a falhas na convocação e na disponibilização dos estudos dos impactos ambientais, que, como é recorrente nas ações da mineradora, têm impossibilitado a adequada informação e a participação devida da população e das comunidades atingidas, que já sofrem com a operação do empreendimento.

Assim, prevaleceu a justiça desta vez.

As irregularidades apontadas pela decisão da Juíza do Serro Dra Caroline Rodrigues de Queiroz também foram verificadas pelo Ministério Público Federal (MPF). O MPF recomendou ao Estado (pelarecomendação nº 17/2017) o adiamento da audiência pública até a viabilização do amplo acesso (inclusive na internet) ao teor dos documentos e a garantia  da participação dos atingidos e moradores da área de entorno, devidamente informados, no processo decisório acerca do empreendimento. A medida foi também solicitada no ofício nº 138/2017 da Prefeitura Municipal  de  Conceição  do  Mato  Dentro, cujo teor desmente falsidades veiculadas pela Anglo American na nota desinformativa, postada na página da mineradora na noite do último 11 de abril.

De acordo com a manifestação da Prefeitura, a Anglo American e o próprio Estado, por meio da Superintendência de Regularização Ambiental (Supram), só protocolaram o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) nos dias 20 de março e 4 de abril de 2017,  respectivamente, desacompanhados de documentos “imprescindíveis para a análise do processo de licenciamento”. A prefeitura registrou em seu ofício que o prazo para exame prévio dos estudos e dos potenciais impactos relacionados era, assim, impraticável; e que numa “análise rasa e preliminar” o projeto “apresenta expressivas alterações” ao inicialmente licenciado!

Os cidadãos e entidades abaixo assinados, que testemunham ou assessoram, desde 2007, os reiterados pedidos por justiça e controle da legalidade nos processos de licenciamento do projeto Minas-Rio, vêm, a público, manifestar irrestrito apoio aos proponentes e endossar os termos da ação popular referida.

Mensagens compartilhadas  nas redes sociais de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas na noite do dia 11/04/2017, divulgam os nomes dos autores da ação da popular e, reproduzindo a íntegra do comunicado oficial da mineradora, omitem a informação a respeito da  recomendação legal do MPF e sobre o requerimento da Prefeitura de Conceição pelo o adiamento da audiência.

Por sua vez, a afirmação veiculada na Nota da Anglo  de que o cancelamento “traz prejuízos ao processo de licenciamento” e “coloca em risco a continuidade operacional do Minas-Rio”, configura grave estratégia de pressão sobre cidadãos que, de forma legítima e com base em direitos constitucionais, demandaram a atuação da Justiça, frente a irregularidades e violações dos direitos das comunidades atingidas.

Muitos são testemunhas de que a balança da Justiça pendeu muitas vezes para a MMX e a Anglo American, e liminares foram caçadas poucas horas após decisões judiciais serem emitidas em favor da transparência do processo de licenciamento. Não há como aceitar que a Anglo American pretenda atingir e coloque o ônus do cancelamento da audiência sobre os que, por meio de um instrumento constitucional, cidadão e democrático, como a ação popular (que visa salvaguardar a observação das leis e dos direitos), buscaram essencialmente o objetivo de garantir que a audiência pública não viesse a constituir novo atropelo ao direito à participação livre e bem informada dos habitantes dessa região.  Por isso, coube a construção da ação popular, resultado de uma articulação em rede, visto que o governo estadual não garante o cumprimento desse papel há quase uma década.

O ocorrido no dia 11, lastimavelmente, comprova o diagnóstico sobre a postura do Estado. Apesar da decisão judicial ter sido apresentada aos representantes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável responsáveis pela condução da audiência pública – inclusive pelo promotor da Comarca e os autores da ação popular – aqueles relutaram (por uma hora e meia) em acatá-la. Protelaram o reconhecimento da existência da decisão judicial, desta forma concorrendo, com a negligência habitual do Estado, para acirrar os ânimos e gerar falsas expectativas nos que compareceram ao ginásio.

É importante destacar que a Anglo American fez a solicitação da audiência no dia 13 de março, através do oficio AA.MFB: 052/2017, no qual informa, como um dos fundamentos, afastar a possibilidade de “riscos associados ao cronograma de julho de 2017, quando a empresa pleiteia a obtenção da Licença”. A mineradora solicitou que a audiência fosse realizada entre os dias 11 e 18 de abril e seu pedido foi atendido pelo Governo do Estado, na mesma data,  conforme o Memorando nº 16/2017, assinado pelo secretário adjunto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado, Sr. Germano Luiz Gomes Vieira.

Na nota que circula desde a noite de terça-feira (11/04/2017), a Anglo American afirma que o cancelamento desta audiência “cerceia a participação e a transparência cultivada junto à população” e que tem “consciência de que o diálogo aberto e respeitoso é caminho para construirmos juntos um legado positivo para a região” (grifos nossos). No entanto, o que está claro para muitos, nos últimos anos, é que a Anglo American (na mesma trilha da MMX e outras grandes mineradoras) nunca dialogou e sempre atuou de forma impositiva, contando com a omissão e conivência de autoridades públicas, assim como jogou e continua a insistir na estratégia de jogar cidadãos contra cidadãos.

Quando não consegue demover a Justiça, tenta se colocar acima dela. A Anglo American sempre tenta desconhecer ou omitir a realidade dos cidadãos e os argumentos que se contrapõem ao seu processo ambiental e socialmente predatório e, quando a Justiça dá razão aos que a questionam, fomenta ambiente para a sua execração irresponsável, ou seja, a torná-los alvos fáceis de pessoas menos informadas ou ainda iludidas com promessas da empresa. 

Assim, o que vem acontecendo, reiteradamente, é o uso, pela Anglo American, de estratégias de pressão covardes –tais como as ameaças de desemprego e de risco de descontinuidade operacional, como se  estes nada tivessem a ver com a concepção do projeto e a forma de tentar impô-lo na marra. Além disso,  o obscurantismo da empresa em relação a suas reais pretensões é mais uma  forma de dificultar a  qualidade do debate e uma discussão isenta em torno de sua proposta.

É direito de todos saber e decidir. É direito escolher o destino e o ritmo do desenvolvimento de projetos na região que ocupamos há alguns séculos. Não será uma empresa que acumula  passivos de denúncias de violações de direitos que nos amordaçará a voz e nos cerceará os direitos que temos como cidadãos. Esperamos que o governo atual revogue a anuência e não se submeta à Anglo American, como outros em passado recente, e que promova o debate e procedimentos adequados para o bom conhecimento do projeto antes de qualquer decisão a respeito do step 3.

Conceição do Mato Dentro, 13 de abril de 2017.

Rede de Articulação e Justiça dos Atingidos do Projeto Minas-Rio- REAJA
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES
Associação de Defesa e Desenvolvimento Smbiental de Ferros - Addaf
Ana Costa -  Professora da UFF
Ana Flávia Moreira Santos (Professora Adjunta do Departamento de Antropologia e Arqueologia – UFMG)
Andrea Zhouri (Professora Titular do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG)
Associação dos Geógrafos Brasileiros - Viçosa (AGB-seção Viçosa).
Brigadas Populares
Carlos Walter Porto Gonçalves - Geógrafo e Professor do Departamento de Geografia da UFF
Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
Comissão Pastoral da Terra - CPT / Coordenação Nacional
Elcio Pacheco (OAB/MG 117511 - Rede Nacional de Advogados(as) Populares – Renap)
Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional - FASE
Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc)
Grupo de Estudos das Epistemologias Feministas (GEEF/UFV)
Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA - UFMA)
Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais - GESTA/UFMG
Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários da AGB (Associação dos Geógrafos Brasileiros), seções Rio de Janeiro-Niterói
Grupo Indisciplinar de Estudos e Pesquisas Descoloniais (GINED/UFV)
Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade - PoEMAS
Gustavo T. Gazzinelli (MG.607.204 - Jornalista, Ambientalista, Conselheiro do CERH/MG)
IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas.
Intersindical - Central da Classe Trabalhadora
Justiça Global
Klemens Laschefski (Professor do Departamento de Geologia da UFMG)
Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades - LEMTO/UFF
Laboratório de Estudos Territoriais e Ambientais (LASTERRAS/UFV)
Maria Rosário de Carvalho/UFBA
Marilda Teles Maracci (Coord. do Curso de Geografia - DGE/UFV)
Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM)
Natália Neme Carvalhosa (Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social - PPGAS/UFRJ)
Núcleo de Estudos sobre Território, Ações Coletivas e Justiça - NETAJ/UFF
Núcleo de História da Ciência e da Técnica- NEHCIT
Núcleo Tramas - Universidade Federal do Ceará
Observatório dos Movimentos Sociais (OMS/UFV)
Paola Bolados García (Investigadora de la Universidad de Valparaíso, Chile)
Políticas Alternativas para o Cone Sul - PACS
Programa Polos de Cidadania/UFMG
Raquel Maria Rigotto (Profa. Titular do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC)
Raquel Oliveira Santos Teixeira (Professora do Departamento de Sociologia UFMG)
Rede “Igrejas e Mineração”
Ruben Siqueira (Sociólogo, da CPT - Comissão Pastoral da Terra)
Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia - Sinfrajupe
SOS Serra da Piedade

sexta-feira, 14 de abril de 2017

No rosto de Jesus crucificado os rostos da humanidade

Eis aí, Jesus, aquele que assumiu viver a condição de oprimido. E não poderia ser diferente, Ele não poderia ficar com os opressores, pois seria se tornar cúmplice do pecado. Jesus, diante da realidade, não se viu dividido em aceitar ou recusar a dor e o sofrimento. Ele se identificou com o sedento, com o nu, com o faminto, com o doente, com o espoliado e com o encarcerado, para que estes se tornassem aqueles que devem merecer, preferencialmente, o nosso amor.

Jesus assumiu a condição do sacrificado, do violentado e do esmagado. Assumiu solidário a tantas vítimas, não por masoquismo, mas porque esse é o caminho para os que defendem a verdade. E este ainda é o caminho, assim como o foi para Chico Mendes, para o indio Marçal, para Pe Josimo, para a sindicalista Margarida Alves, para irmã Dorothy e para tantas e tantos outros e outras mártires da luta pela terra, trabalho, casa, saúde, pão, liberdade e dignidade.

Morto e já transpassado pela lança, o sol já se punha. Quanto aos apóstolos, companheiros, atordoados e confusos, os Evangelhos nem mencionam a presença deles naquele momento crítico. Só falam da presença de mulheres e do discípulo amado. Jesus estava abandonado. As mulheres, olhavam o inocente supliciado e morto. Elas haviam caminhado com Ele, haviam visto fazer o bem a todos. Naquele instante elas não podiam arrancar o cadáver de Jesus, lavá-lo, embalsamá-lo, nem envolvê-lo em pano e faixas, tudo ao mesmo tempo e sepultá-lo.

Mas ali se encontravam José de Arimatéia e Nicodémos. José de Arimatéia homem bom e justo, como atesta o evangelho, era membro do Sinédrio, e cedeu sua tumba para sepultar Jesus, num horto, sob o Golgota. Nicodemos era fariseu, que um dia teve coragem de defender Jesus diante do Sinédrio. Dois discípulos ocultos do mestre. Na vida a solidariedade pode vir de onde menos se espera. Pilatos deixou que eles retirassem Jesus da cruz.

A presença das mulheres e de João, juntos ao pé da cruz, na execução de Jesus, e as atitudes de José de Arimatéia e Nicodemos, expressam risco de uma perigosa decisão. No ato de estar solidário e não abandonar, e no ato de dar sepultura para um homem condenado e odiado pelas autoridades, está o testemunho que atesta a derrota do medo.

Nesta sexta feira santa contemplamos em Cristo o rosto sofrido, do cotidiano da humanidade. O rosto das crianças condenadas a morrerem pobres, crianças que aparentam oito anos, quando de fato tem treze. O rosto das mulheres subjugadas peleo patriarcalismo, que ainda impera em nossa sociedade. 

O teu rosto sofredor, Senhor, está nos rostos dos índios e dos negros descriminados. Senhor, teu rosto está no rosto sofrido dos operários mal pagos, nos favelados, sem terra, sem teto, subempregados e desempregados, nos jovens desorientados e nos LGBTs marginalizados e agredidos em sua dignidade. Senhor, teu rosto está na natureza destruída e manipulada pelo capital. 

Fazer memória viva da paixão de Jesus Cristo é assumir, no dia-a-dia da vida, a luta pela libertação, redenção dos rostos da humanidade.
Frei Rodrigo Péret, ofm

domingo, 9 de abril de 2017

Conflito em fazenda deixa quatro feridos em Capitão Éneas (MG)


Netto Rodriguez fotografou Géssica, internada no HPS de Capitão Enéas
Quatro pessoas ficaram feridas num confronto entre integrandes de Sem-Terra e donos de uma fazenda, neste domingo (09), em Capitão Enéas, Norte de Minas. A PM de Montes Claros enviou reforço para a cidade para verificar a situação. O incidente foi na Fazenda Norte América. Géssica Thais Gonçalves Freitas e Fabrício Alvins Lima estão internados na Santa Casa e Hospital Nossa Senhora da Guia. Em estado grave, Vildomar Oliveira Gomes foi baleado no pescoço e encaminhado para a Santa Casa de Montes Claros, que informou que o estado de saúde dele é estável. Entre os feridos está também Gabriel Gonçalves, de dez anos que foi atingida de raspão no rosto, mas ainda se encontra com a família no assentamento.

Ainda no hospital, Géssica Gonçalves, uma das feridas, conta como tudo aconteceu.

“O Jackson, gerente da fazenda, por várias vezes foi ate nós para que pudéssemos ir a
Foto Netto Rodriguez
uma reunião na fazenda. Ele insistiu muito e nós aceitamos o convite. Hoje, éramos 300 famílias, fomos ate a sede por volta das 7h30. Ao chegar à cancela fomos recebidos a bala por cerca de dez jagunços. Eles atiraram sem dó e nem piedade. Tinha crianças, idosos, gravidas. Nós vimos o dono da fazenda no lugar. Pedimos pra não atirar. Abaixamos pra não sermos baleados. Eu levei um tiro que atravessou a minha perna. Agora estou aqui. Foram momentos de terror. Gritávamos por paz, queremos paz. Foi um verdadeiro golpe. O que era pra ser um encontro de paz virou um cenário de guerra. Foi uma covardia”, afirmou por telefone Géssica.

A fazenda está invadida desde o dia 16 de janeiro. À época da ocupação, o movimento divulgou que cerca de 150 famílias participavam da ação e afirmaram que a fazenda possui cerca de três mil hectares e pertenceria à Associação Educativa do Brasil (Soebras), que segundo eles, teria arrematado a fazenda em um leilão, devido a uma dívida da fazenda com um banco federal, que ainda não foi paga. A Soebras divulgou nota negando que ela ou os fundadores da associação sejam os proprietários da Fazenda Norte América e afirmou ainda que a fazenda possui convênio com a Soebras para as aulas práticas dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia.

O atual dono da fazenda seria o empresário Leonardo Andrade*, que ainda não foi localizado pelo Portal Webterra para se pronunciar sobre o caso.

Com informações do Jornalista Netto Rodriguez, Direto de Capitão Enéas. 
FONTE: Portal Webterra

* Leonardo Andrade, sócio do ex-prefeito de Montes Claros, Rui Muniz, se identificou como proprietário e se dispôs a vender as terras ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Este deveria destiná-las à criação de um assentamento, no entanto, a morosidade do Instituto permitiu o acirramento do conflito instalado. (da Página do MST)