quinta-feira, 4 de julho de 2024

Colonialismo energético, território de sacrifício. A real Face da Transição Energética no Vale do Jequitinhonha


Na segunda década do século XXI, o discurso sobre mudanças climáticas e a transição para uma energia dita coma limpa, promovido por corporações e governos, esconde um aumento crescente e devastador da exploração de territórios. Isso ocorre tanto por meio de projetos minerários quanto de produção de energia e infraestrutura. Portanto, é falso afirmar que se trata de uma verdadeira transição para energia limpa. Na realidade, trata-se de mais mineração nos territórios, causando sérios danos ecológicos e sociais em vários países, especialmente no Sul Global.

Ainda, sob a fachada de progresso e desenvolvimento, as corporações e os governos promovem falsas promessas de um futuro melhor. No entanto, a exploração de novas fronteiras minerárias e de outros grandes projetos do capital é apenas mais um capítulo de uma longa história de promessas vazias e exploração contínua. Um relatório do Banco Mundial destaca que para alcançar uma grande capacidade de “energia renovável” exigirá um aumento drástico na extração minerária de materiais como o lítio, agravando a crise de sobre-extração e seus impactos negativos inerentes, como o desmatamento, destruição de solos, perda de biodiversidade, contaminações e danos aos recursos hídricos. 

O colonialismo energético está por trás desses conflitos, perpetuando um modelo econômico extrativista que beneficia poucos em detrimento das populações locais e da destruição de muitos territórios que são decepados e incorporados na “máquina do lucro”. O capitalismo em crise busca se reconfigurar, agora com o mito da energia e produção verde. 

No Vale do Jequitinhonha, o chamado colonialismo energético se manifesta pela desapropriação, fragmentação e transformação de terras e territórios através de megaprojetos de mineração. Esse modelo de exploração imposto à região é o mesmo que se espalha por toda Minas Gerais. Não existe mineração verde ou sustentável. A mineração consiste em arrancar o minério da terra, exportá-lo, às vezes processa-lo e deixar um rastro de destruição. Essa prática causa profundos impactos nas práticas e valores culturais, ecológicos e agrícolas, perpetuando um modelo econômico extrativista que beneficia poucos no Norte Global, em detrimento das populações locais.

Essa é uma roupagem nova para um processo já visto muitas vezes no Vale do Jequitinhonha. Ciclos de exploração econômica têm se repetido desde o século XVIII, com as riquezas sendo constantemente extraídas em benefício de poucos. Desde a mineração de pedras preciosas, a criação de grandes fazendas e monocultivos de eucalipto e a produção de energia com a barragem de Irapé.  Na atual busca pela extração minerária do lítio vemos a usurpação de terras sob os velhos pretextos de "desenvolvimento" e "progresso". Desta forma, os habitantes do Vale têm sido sistematicamente prejudicados e marginalizados.

A Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração do Regional Leste 2 da CNBB e as instituições abaixo assinadas denunciam veementemente essas práticas predatórias e reitera que as promessas de desenvolvimento e riqueza para a região não mais nos convencem. As comunidades tradicionais e os povos do Vale do Jequitinhonha continuarão a resistir e lutar pela justiça e pelo reconhecimento de seus direitos.

Belo Horizonte, 04 julho 2024

Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração do Regional Leste 2 da CNBB

Rede Igrejas e Mineração Minas Gerais

Comissão Pastoral da Terra

Caritas Brasileira

Conselho Indigenista Missionária

Conselho Pastoral dos Pescadores

Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana

Serviço Interfraciscano de Justiça Paz e Ecologia

Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce

Instituto Padre Nelito Dornelas

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade



sexta-feira, 21 de junho de 2024

Conselho Mundial de Igrejas: Declaração sobre Biodiversidade COP16 e Clima COP29

No dia 13 de junho, o comitê executivo do Conselho Mundial de Igrejas, reunido na Colômbia, em vista dos dois grandes encontros ambientais globais previstos para o segundo semestre deste ano: a Conferência de Biodiversidade da ONU (COP16), em Cali na Colômbia e a Conferência do Clima da ONU (COP29) Baku, no Azerbaijão, divulgou uma declaração observando que os sistemas necessários para o florescimento da vida estão em risco extremo. O texto aborda a crise interligada entre mudanças climáticas e perda de biodiversidade, destacando os graves riscos para a vida na Terra. Ressalta que os eventos climáticos extremos e a aceleração da perda de espécies exigem ação urgente. Sublinha a importância de ver essas crises como interligadas, enfatizando a necessidade de ações coordenadas e financiamentos significativos.

Para o Conselho Mundial de Igrejas a defesa dos direitos humanos, especialmente dos povos indígenas, é essencial para a proteção da biodiversidade e do clima. A Colômbia é elogiada por seus esforços na redução do desmatamento. O documento chama as igrejas a mobilizar suas comunidades e responsabilizar governos por suas metas ambientais. Por fim, é solicitado que os governos resistam ao lobby corporativo e adotem ações corajosas e urgentes para enfrentar as crises de biodiversidade e clima. 

Leia abaixo na integra a Declaração (Original em Inglês).

Declaração sobre Biodiversidade COP16 e Clima COP29

A vida na Terra e os sistemas necessários para o seu florescimento estão em risco extremo. As crises interligadas das alterações climáticas e da perda de biodiversidade representam as mais graves ameaças à capacidade dos seres humanos e de grande parte do mundo natural sobreviverem e florescerem na Terra, a criação viva única de Deus.

9 A própria criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus. 20 Entregue ao poder do nada – não por sua própria vontade, mas por vontade daquele que a submeteu -, a criação abriga a esperança, 21 pois ela também ela também será libertada da escravidão da corrupção, para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. (Romanos 8,19-21)

Os tempos em que vivemos mostram que não estamos nos relacionando com a Terra como um presente de nosso Criador, mas sim como um recurso a ser usado. E, no entanto, há esperança... Esperar... não significa ficar parado e quieto, mas sim gemendo, chorando e lutando ativamente por uma nova vida em meio às lutas. Assim como no parto, passamos por um período de dor intensa, mas uma nova vida surge. (Tempo da Criação 2024)

Crises Interligadas

A vida na Terra e os sistemas necessários para a vida florescer estão em extremo risco. As crises interligadas de mudanças climáticas e perda de biodiversidade representam as maiores ameaças à capacidade de sobrevivência e florescimento dos humanos e grande parte do mundo natural na Terra, a criação viva única de Deus. A interação entre o aquecimento global causado pela queima contínua de combustíveis fósseis e a extração e consumo descontrolados de recursos naturais está destruindo a teia de espécies e ecossistemas que ancoram toda a vida, ameaçando meios de subsistência, saúde, fontes de alimentos e água, além de intensificar os impactos de desastres naturais, prejudicando os mais vulneráveis e aumentando as injustiças globais.

À medida que observamos a frequência crescente e o poder destrutivo dos eventos climáticos extremos - incluindo as recentes enchentes severas no sul do Brasil, Quênia e Emirados Árabes Unidos, seca no Panamá e no sul da África, e ondas de calor recordes no Sahel e em toda a Ásia - e a perda acelerada de espécies em muitas partes do mundo, somos chamados a agir agora com esperança e com a criação!

Ligando mudanças climáticas e biodiversidade

Respondendo a esses desafios, duas grandes conferências ambientais globais estão programadas para ocorrer no final deste ano: a Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP16) em Cali, Colômbia, de 21 de outubro a 4 de novembro de 2024, e a Conferência da ONU sobre o Clima (COP29) em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro de 2024. Esses dois eventos devem ser vistos como interligados à luz das estreitas conexões entre as crises de biodiversidade e clima.

Por um lado, a biodiversidade é um fator chave na mitigação das mudanças climáticas e na atenuação de seus impactos. Ecossistemas saudáveis servem como sumidouros de carbono. Estima-se que tenham removido cerca de 60% das emissões globais desde a Revolução Industrial. Além disso, a biodiversidade aumenta a resiliência dos ecossistemas, reduzindo os impactos climáticos (como enchentes) nas paisagens e comunidades. Portanto, a proteção e restauração da biodiversidade são uma dimensão essencial da ação climática.

Por outro lado, espera-se que as mudanças climáticas perturbem gravemente os ecossistemas e desencadeiem uma maior perda de biodiversidade. Estudos estimam que o impacto do aquecimento global de 2 graus Celsius poderia colocar 5% de todas as espécies em risco de extinção. Com aumentos de temperatura mais altos, as mudanças climáticas poderiam levar à extinção metade das espécies conhecidas na Terra. Enquanto a destruição de florestas e pastagens para a agricultura é atualmente o principal motor do declínio da biodiversidade, as mudanças climáticas são a segunda maior causa de perda de biodiversidade nos oceanos e a quarta maior causa em terra. Com níveis recordes e crescentes de dióxido de carbono na atmosfera, espera-se que as mudanças climáticas tenham um impacto mais significativo na biodiversidade no futuro próximo.

Ambas as crises agravam os desafios relacionados ao acesso à terra, fontes naturais de água e alimentos para milhões de pessoas em todo o mundo. Dado o impacto dessas crises no acesso a esses recursos essenciais, devemos abordar esse nexo desenvolvendo estratégias integradas para promover o uso sustentável de recursos, apoiar ecossistemas e melhorar a soberania alimentar e o acesso à água potável.

Abordar conjuntamente a perda acelerada de biodiversidade e as mudanças climáticas descontroladas é crucial para garantir um planeta habitável que forneça meios de subsistência e necessidades básicas para as pessoas, bem como promova o florescimento de toda a vida. Ambas exigem mudanças urgentes e sistêmicas que nos afastem de economias extrativistas em busca de lucros ilimitados e expansão, em direção a modelos de vida mais justos, sustentáveis e solidários. No entanto, o progresso dos governos em alcançar os objetivos do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (2022) e do Acordo de Paris (2015) tem sido inadequado e muito lento para atender à escala e velocidade da crise. Além disso, a comercialização contínua da crise climática através de intervenções irrealistas visando lucro em vez de buscar soluções reais está colocando em risco o bem-estar de toda a criação.

Foco na Colômbia

A Colômbia, local desta reunião do comitê executivo do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e da próxima Conferência da ONU sobre Biodiversidade, é um dos países mais biodiversos do mundo. No entanto, sua biodiversidade está diminuindo devido ao uso insustentável da terra, particularmente para agricultura, pecuária e mineração. Mais de 10% das 3.429 espécies animais conhecidas no país – muitas endêmicas da Colômbia – estão ameaçadas. O país contribui com apenas 0,6% das emissões globais de CO2, mas está entre os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, experimentando regularmente enchentes e secas danosas. No entanto, o desmatamento parece estar diminuindo nos últimos anos, caindo 29% em 2022 como “resultado do que provavelmente é o primeiro processo de paz da história a colocar o meio ambiente no centro”.

Um foco na Colômbia, junto com outras situações de conflito na agenda do comitê executivo, como Gaza, Sudão e Ucrânia, também serve para destacar o impacto da guerra no meio ambiente, tanto em termos de danos ambientais diretos devido à violência armada, quanto às emissões de CO2 geradas pela maquinaria da guerra – bem como os impedimentos que qualquer conflito impõe à cooperação internacional urgentemente necessária para enfrentar essas crises globais.

Defendendo os Direitos Humanos

Defendendo 80% da biodiversidade remanescente do mundo, as comunidades indígenas desempenham um papel fundamental na proteção da biodiversidade e do clima. O Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal vincula claramente questões de conservação da biodiversidade aos direitos humanos, incluindo os direitos dos povos indígenas às terras, territórios e recursos; reconhecimento dos valores, conhecimentos e contribuições dos povos indígenas para a conservação da biodiversidade; e acesso à justiça e proteção dos defensores dos direitos humanos ambientais, muitos dos quais são indígenas.

A comunidade internacional precisa manter os direitos humanos em destaque enquanto o Azerbaijão sedia a Conferência da ONU sobre o Clima. Entre outras preocupações, lembramos a detenção ilegal até hoje de 23 funcionários de Karabagh após o fim do bloqueio do corredor de Lachin, somando-se a centenas de outros prisioneiros políticos no Azerbaijão. Além disso, com petróleo e gás representando quase 90% das receitas de exportação do Azerbaijão, e com os fortes laços do governo com a indústria de petróleo e gás, ativistas climáticos nacionais e internacionais podem enfrentar represálias.

Financiando a proteção da biodiversidade e do clima

O financiamento será um ponto de contenção em ambas as COPs de Biodiversidade e Clima. A COP29, em particular, deve estabelecer uma nova meta de financiamento climático.

Salvaguardar a biodiversidade e o clima exige investimentos massivos. De acordo com vários estudos, os valores projetados necessários para responder à crise da biodiversidade e à emergência climática são de USD 722-967 bilhões e USD 2,4-4,3 trilhões por ano, respectivamente, até 2030. Esses investimentos na saúde do nosso planeta não apenas trazem benefícios sociais e ambientais, mas também ajudam a reduzir os custos econômicos das mudanças climáticas, estimados em até dezenas de trilhões de dólares anualmente.

Fundado no princípio de que o poluidor paga, as nações ricas que são mais responsáveis e se beneficiaram mais do desenvolvimento global devem ajudar a pagar pelas crises ambientais globais, incluindo o financiamento da restauração da biodiversidade, medidas de adaptação e uma transição justa para uma economia baseada em energias renováveis nos países de baixa renda, além de contribuir para o fundo de perdas e danos que está sendo criado para apoiar as comunidades que sofrem com o aquecimento global. Isso é uma questão de justiça.

O cancelamento da dívida para os países menos desenvolvidos e a reforma tributária internacional podem arrecadar recursos para preencher a lacuna de financiamento e abordar desigualdades que impedem a ação climática. Em particular, a criação de uma convenção tributária internacional e de um sistema tributário unitário poderia apoiar o investimento em objetivos ambientais. Eliminar subsídios à indústria de combustíveis fósseis e reduzir os gastos militares também poderia redirecionar fluxos financeiros para a proteção da biodiversidade e do clima.

Em espírito de esperança e ação com a criação, o comitê executivo do CMI reunido em Bogotá, Colômbia, de 6 a 11 de junho de 2024:

Elogia

•  O governo da Colômbia por seus esforços no combate ao desmatamento e à perda de biodiversidade, e por endossar o Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis (FFNPT).

A Coalizão Fé pela Biodiversidade e o Comitê de Ligação Inter-religioso com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima por engajar comunidades religiosas, incluindo as igrejas membros do CMI, nos esforços para realizar os objetivos do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal e do Acordo de Paris.

Chama as igrejas a

Aprender com as espiritualidades e práticas indígenas que salvaguardam a biodiversidade e o clima.

Mobilizar suas bases e comunidades de fé para exercer pressão e construir vontade política para ações climáticas profundas e oportunas, sem degradar ainda mais o ecossistema ou colocar em risco os mais vulneráveis.

Responsabilizar os governos por atingir as metas de biodiversidade e clima.

Apoiar a Lei do Ecocídio, o FFNPT e a Campanha Ecumênica Zacchaeus Tax, que liga justiça tributária à justiça ecológica.

"Praticar o que pregam" e tomar ações institucionais para combater o declínio da biodiversidade e as mudanças climáticas por meio de conscientização educacional, advocacia, liturgia e oração (como a Campanha da Tempo da Criação), regeneração de terras, restauração da biodiversidade, práticas financeiras responsáveis em relação ao clima e intercâmbio de histórias de sucesso, entre outros. 

Chama os governos que se reunirão nas COPs de Biodiversidade e Clima a

Resistir ao lobby corporativo e agir com coragem e a urgência necessária para enfrentar a ameaça à criação de Deus e a toda vida representada pelas crises de biodiversidade e clima.

Adotar uma abordagem coordenada tanto em nível internacional quanto nacional para enfrentar o declínio da biodiversidade e as mudanças climáticas de maneira holística, e fazer provisões orçamentárias anuais obrigatórias para ação climática e proteção da biodiversidade em nível nacional.

Definir um caminho claro para uma eliminação total, rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis.

Intensificar as Contribuições Nacionalmente Determinadas em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.

Promover soluções baseadas na natureza, enraizadas nas comunidades, que apoiem a biodiversidade e ajudem a enfrentar as mudanças climáticas.

Colocar os direitos humanos no centro das COPs de Biodiversidade e Clima da ONU, especialmente reconhecendo e protegendo os direitos dos povos indígenas e os direitos de outros grupos vulneráveis e marginalizados, como pessoas com deficiência; respeitar plenamente os direitos dos ativistas climáticos nacionais e internacionais; assim como realizar os direitos à terra, água e alimentos.

Integrar intencionalmente questões de terra, recursos naturais de água e alimentos nas COPs de Biodiversidade e Clima da ONU.

Reconhecer e proteger a dignidade inerente e o direito de toda a vida, flora e fauna, de sobreviver por meio do desenvolvimento e implementação de políticas e marcos legais como a Lei do Ecocídio.

Ampliar radicalmente as metas e fornecer financiamento para biodiversidade e clima, principalmente dos países ricos e dos maiores emissores históricos de gases de efeito estufa, em linha com as necessidades e prioridades dos países pobres e vulneráveis, na escala necessária e em forma de subsídios em vez de empréstimos.

Buscar o cancelamento da dívida para os países menos desenvolvidos e a reforma tributária internacional para financiar a proteção da biodiversidade e do clima e combater as desigualdades.

FONTE: World Council Of Churches


quarta-feira, 5 de junho de 2024

Nota: Dia Mundial do Meio Ambiente - Campanha Junho Verde 2024

 


Nota alusiva à Campanha Junho Verde 2024 - Dia Mundial do Meio Ambiente

Neste JUNHO VERDE, a Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração da CNBB Leste 2 se une à celebração desta Campanha, uma iniciativa da CNBB, estabelecida pela Lei 14.393/2022, que altera a Política Nacional de Educação Ambiental. Este ano, a Campanha marca os 25 anos da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Junho também coincide com o Dia Mundial do Meio Ambiente, no dia 5, representando um apelo à conscientização e proteção ambiental.

Celebramos em meio à situação crítica no Rio Grande do Sul e nos solidarizamos com seu povo tão duramente atingido. Sabemos que não se trata apenas de um evento natural extremo, mas também do resultado do modelo econômico, do processo político e da exploração dos recursos naturais. Tanto o Estado quanto os municípios afetados subestimaram os alertas científicos e climáticos. Precisamos superar o negacionismo e promover uma educação ambiental crítica, que supere a atual razão estrutural do modo de produção capitalista no mundo e no Brasil. É essencial uma política ambiental que vá além da estrutura neoliberal, contribuindo para sociedades sustentáveis e um mundo mais justo e solidário, com uma visão de Ecologia Integral.

À luz da Laudato Si', no capítulo VI, o Papa Francisco nos convida a uma profunda reflexão sobre a relação entre educação e espiritualidade ecológicas. Ele nos alerta para a necessidade urgente de mudança em nossos estilos de vida e atitudes, frente à crise ambiental e cultural que enfrentamos. O Papa denuncia o consumismo desenfreado, que gera uma falsa sensação de liberdade e contribui para uma crise de identidade. Propõe, então, uma educação que considere a informação científica, incorporando uma crítica ao individualismo e ao consumismo, promovendo um equilíbrio ecológico que inclua o espiritual.

Neste contexto, a educação ambiental deve fomentar novos hábitos, virtudes sólidas e um estilo de vida responsável e solidário. A família e as comunidades cristãs desempenham um papel central nesse processo de transformação. Assim, unimos nossas vozes ao apelo do Papa Francisco por uma "conversão ecológica", reconhecendo nossa profunda conexão com todas as criaturas e promovendo uma comunhão universal com a criação. Que possamos viver essa conversão comunitariamente, com gratidão e responsabilidade, inspirados pelo exemplo de São Francisco de Assis.

Belo Horizonte, 5 de junho de 2024
Dia Mundial do Meio Ambiente

Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração
Dom Francisco Cota de Oliveira, Bispo Referencial



quinta-feira, 9 de maio de 2024

Solidariedade com as pessoas e comunidades do Estado do Rio Grande do Sul

 

Sinais dos tempos


“Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época? E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?” (Lucas 12,56).

A Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB solidariza-se, profundamente, com as pessoas e comunidades do Estado do Rio Grande do Sul, com 1,3 milhão de desabrigados, mais de 100 famílias em luto pelo falecimento de seus entes queridos, 128 desaparecidos, 350 municípios devastados pelas enchentes. Há ainda a dramática perda de animais domésticos e silvestres, de matas e lavouras, da destruição de casas, de bens domésticos, além do imenso impacto na saúde psíquica e emocional dos atingidos. Nos somamos aos esforços de atendimento às necessidades emergenciais.

Tudo está interligado em nossa Casa Comum. Por isso, é preciso sabedoria para ler os sinais dos tempos. Desde a década de ’70, cientistas nos avisavam que o Aquecimento Global produziria impactos inimagináveis nos seres vivos e no planeta. E que era preciso mudar os rumos de uma civilização baseada na queima de combustíveis fósseis e na devastação do meio ambiente. Portanto, nada do que hoje acontece, deixou de ser avisado e previsto.

Porém, o modelo civilizatório não mudou. Continua emitindo gases de efeito estufa cada dia mais, expandindo monocultivos e devastando florestas. Logo, o Aquecimento Global cresce. Os fenômenos extremos se multiplicam, com ondas de calor, nevascas, chuvas torrenciais, secas, derretimentos das geleiras, elevação do nível dos mares, extinção de espécies, assim por diante. Se as petroleiras já decidiram que vão elevar o consumo de petróleo até 2050, de que adiantam todos os outros esforços?

Falemos claro: quem decide o rumo de um progresso que privilegia uma minoria rica, que concentra mais de 50% da riqueza de nosso planeta, são as petroleiras e um estilo de neoliberalismo colonialista e predador. Enquanto isso, os poderes que deveriam defender os seres humanos e não humanos e o planeta Terra, se submetem a essa hegemonia.

No Brasil, as mudanças na legislação ambiental, a invasão dos territórios comunitários e indígenas, a derrubada das florestas para expansão da criação de gado, cultivo em larga escala de soja, milho e eucalipto, a ação das mineradoras e do garimpo, formam a tempestade perfeita para o que hoje acontece no Rio Grande do Sul, onde as alterações radicais do Código Ambiental em 2019 foram importantes cúmplices das catástrofes que hoje acontecem.

Diante de tudo isso, nosso querido Papa Francisco tem convocado a humanidade a uma conversão integral (LS 216) para enfrentar essas mudanças. Até aqui, no entanto, as reações têm sido insuficientes. São louváveis e indispensáveis todas as manifestações de solidariedade ao povo do Sul: no entanto, elas não podem ser apenas uma “onda caridosa” momentânea! A ciência e a sabedoria dos povos nos dizem que estes fenômenos vão se repetir, cada vez mais, com maior intensidade, à medida que a temperatura global subir, se não atuarmos decididamente nas causas dos problemas socioambientais. Como disse Gandhi “a natureza pode suprir todas as necessidades da humanidade, menos a sua ganância”. Tudo isso nos indica que estamos colhendo o que plantamos, e as piores consequências recaem, sobretudo, na conta dos mais vulneráveis.

Portanto, é preciso reagir, pois a pior hipótese é a imobilidade indiferente ou negacionista! Essa não nos pertence. Autoridades mundiais e locais, religiões, ciência, militantes, movimentos populares, povos tradicionais, todos somos convidados a dar-nos as mãos e buscar novos caminhos, que amenizem tantos sofrimentos e nos permitam sonhar e construir outros mundos possíveis, de justiça e paz. Como escreveu o Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’, rezemos: "Deus dos pobres (...) curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não destruição. Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra".

Livramento de Nossa Senhora, 08 de maio de 2024

Dom Vicente Ferreira

Presidente da Comissão para Ecologia Integral e Mineração







sexta-feira, 19 de abril de 2024

Rede Franciscana para Migrantes das Américas Realiza Assembleia da Equipe Brasil

 

Foto: Rede Franciscana para Migrantes

Entre os dias 11 e 14 de abril de 2024, em Belo Horizonte – MG, a Rede Franciscana para Migrantes – equipe Brasil – RFM, se reuniu em Assembleia Anual para avaliar as atividades 2023 e programar as próximas ações para o ano de 2024. Estávamos em 20 participantes entre frades, religiosas, leigos, leigas e migrantes dos Estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Acre, Piauí e Rio de Janeiro que representaram as diversas regiões do país.

A Rede Franciscana para Migrantes surgiu em abril de 2018 durante o curso anual de Justiça, Paz e Integridade da Criação - JPIC, realizado em Guadalajara/México, cujo tema central foi “Migração: causas, muros e perspectivas franciscanas”. Esta expandiu-se desde os Estados Unidos, Mexico, Guatemala, Honduras, El Salvador, Panamá e Colômbia. Em dezembro de 2022, foi fundada no Brasil, em Assembleia que aconteceu em São Paulo. 

A rede é formada por mulheres e homens, leigas e leigos, religiosas e religiosos que trabalham em questões migratórias, oferecendo apoio, assistência humanitária e acolhimento de pessoas deslocadas de seus territórios. Desejamos, portanto, ser uma rede franciscana que agregue e articule os que estão executando ou servindo em projetos como centros de migrantes, postos, abrigos, fronteiras, paróquias solidárias, centros de estudo, equipes de advocacia e serviços individuais, para unir esforços e criar um corredor humanitário no continente americano a partir do carisma franciscano.

O encontro oportunizou uma análise de conjuntura política e econômica nacional e internacional em relação às questões migratórias, facilitada pelo professor Doutor Duval Magalhães Fernandes e, na sequência, uma análise de conjuntura política e social no território nacional sobre as questões migratórias, facilitada pela professora Doutora Maria da Consolação Gomes de Castro, ambos docentes da PUC/Minas e comprometidos com a pauta migratória através de seus estudos e trabalhos acadêmicos.

A assembleia foi também um espaço de partilha, escuta ativa e enriquecimento dos laços fraternos. Com o objetivo de refletir e definir as propostas de trabalho, vivenciamos três grandes eixos de discussão, são eles: Incidência Política, Articulação e Fortalecimento e Comunicação.

Algumas prioridades foram escolhidas para direcionar nossa atuação no presente triênio de trabalho, destacamos o “monitorar a Política Nacional de Migração e Refúgio resultante da Conferência Nacional (COMIGRAR);

Incidir na participação da RFM nos territórios nos Comitês/Comissões/Conselhos e Grupos de Trabalho de Política Migratória; e nos locais em que estas estruturas de governança da política pública migratória não existirem, favorecer articulações para implantar;

Apresentar a RFM aos órgãos do sistema de justiça e demais órgãos de defesa de direitos, visando incidir em situações de denúncias/violações de direitos/notas técnicas e demais articulações;

Promover formações aos integrantes da RFM, visando qualificar o processo de incidência política, na perspectiva de formação inicial e qualificada - Formação Inicial – Cursos já disponíveis;

Promover capacitação político-social aos migrantes garantindo o protagonismo e a autonomia (autodefesa).

Articulação e fortalecimento

Formação contínua para os membros da rede;

Garantir presença dos migrantes nas discussões, gestão e comitês da Rede;

Fortalecer as bases, ampliando os contatos com demais instituições que desenvolvam trabalhos com migrantes (Igrejas, sociedade civil, organizações e coletivos sociais, outras expressões religiosas, órgãos e instituições públicas) – priorizando a articulação com a Família Franciscana em suas distintas ramificações;

Continuar o levantamento dos trabalhos de base de migração; criando material guia de Serviços/Casas/Referências da Rede e Parceiros – Cartografia; tendo anexado, pelo menos, duas novas lideranças que trabalham com migração (região fronteiriça).

Comunicação 

Indicação de 01 integrante da RFM Brasil para o diálogo com a comunicação oficial da Rede (atualização do site, notícias etc.) – plataformas da RFM: site, redes sociais – Instagram, TikTok, Youtube; garantir vídeos tutoriais nas redes sociais com participação dos migrantes;

Elaborar um material de divulgação padrão da RFM para apresentação da rede (folder virtual, apresentação ppt), banco de dados (relatório/sistematização das atividades) por território/região;

Continuar com a proposta do informativo anual RFM Brasil;

Elaboração do Plano de Comunicação da rede, a partir das propostas dispostas como estratégias.

A partir dessas linhas de trabalhos e eixos norteadores, a Assembleia reunida se compromete na luta a favor dos direitos humanos, se fortalecendo como uma rede de defensores dos direitos pela pessoa migrante motivados pelo discurso do Papa Francisco em que diz “não se trata apenas de migrantes, se trata de humanidade”.

Rede Franciscana para Migrantes, Equipe Brasil

quarta-feira, 6 de março de 2024

Carta de Repúdio: Justiça que mantém a Vale impune por Brumadinho nega direito de sepultamento a cacique Kamakã


 

CARTA DE REPÚDIO

Justiça que mantém a Vale impune por Brumadinho nega direito de sepultamento a cacique Kamakã

A Rede Igrejas e Mineração de Minas Gerais, a Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração da CNBB, a Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração do Leste 2 da CNBB – CEREM,  o Conselho indigenista Missionário – CIMI, a Comissão Pastoral da Terra – CPT, a Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente a Mineração, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM, o Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, o SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia, o Processo de Articulação e Diálogo – PAD, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE e a FeAct Brasil – O Fórum Ecumênico ACT Brasil vem, através desta, manifestar sua profunda indignação com a decisão da Justiça Federal da 6ª Região, de Belo Horizonte, em favor da Empresa Vale S/A, que proíbe a Retomada Kamakã Mongoió em Brumadinho (Córrego Areias), de semear o corpo do Cacique Merong Kamakã Mongoió, no território sagrado da comunidade. 

A Justiça Federal alega que não foi formulado um pedido para que o sepultamento fosse realizado no território, sendo que este consta como objeto de reintegração de posse. A Justiça Federal autoriza ainda o auxílio de força da Polícia Federal e Polícia Militar para impedir que seja realizado o sepultamento. No entanto, é preciso lembrar que o processo de retomada da comunidade Kamakã Mongoió acontece há cerca de três anos, resistindo contra as violentas investidas da outra parte do processo, a mineradora Vale S/A. Por isso, essa decisão viola os direitos dos povos indígenas, assegurado na Constituição Federal, de sepultar seus membros no próprio território.

Previsto para acontecer de maneira respeitosa e pacifica, o ritual indígena foi realizado restritamente entre a comunidade na madrugada desta quarta-feira, 06 de março, uma vez que a intimação que proibia o sepultamento só foi entregue por volta de 9h da manhã. No momento da entrega, lideranças indígenas, parlamentares e representantes de movimentos sociais prestavam apoio à Retomada Kamakã Mongoió. 

Não por acaso, tramita a partir de hoje também na Justiça Federal da 6ª Região de Belo Horizonte, o reinício do julgamento do pedido de habeas corpus do ex presidente da Vale S/A, Fábio Schvartsman, denunciado por homicídio doloso duplamente qualificado no processo que julga a responsabilidade pelas 272 mortes causadas pelo rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, ocorrido no ano de 2019 em Brumadinho. 

Enquanto a Vale tenta fugir de sua responsabilização pelo crime que atingiu a Bacia do Rio Paraopeba, soterrou vidas e causou danos ambientais irreversíveis, a Justiça permite que outras violações de direitos aconteçam. 

A morte do Cacique Merong Kamakã Mongoió segue em investigação. Feito o sepultamento, a drª Lethicia Reis, advogada do CIMI que assessora a comunidade, irá informar o judiciário da perda de objeto. 

Ao receber as homenagens e ser semeado em seu território, Merong torna-se sinal de resistência e apelo à justiça.

Rede Igrejas e Mineração de Minas Gerais

Comissão Especial para Ecologia Integral e Mineração da CNBB

Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração do Leste 2 da CNBB – CEREM

Conselho indigenista Missionário – CIMI

Comissão Pastoral da Terra – CPT

Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais

Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente a Mineração

Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM

Processo de Articulação e Diálogo – PAD

Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE

Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

SOS Corpo – Instituto Feminista para Democracia

FeAct Brasil – O Fórum Ecumênico ACT Brasil

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

5 Anos sem Justiça em Brumadinho. Qual é a Nossa Esperança?



 5 Anos sem Justiça em Brumadinho. Qual é a Nossa Esperança?

Os Territórios Livres de Mineração:
A nossa é a Esperança desperta na busca por territórios livres de mineração, moldada pelas cicatrizes do crime continuado perpetrado pela Vale aqui em Brumadinho, na bacia do Paraopeba. Empresa reincidente em crimes, como o que ocorreu em Mariana, na bacia do Doce. Caminhamos na Esperança nessa jornada por justiça, vislumbramos um futuro de comunidades erguidas, não mais sob a sombra da mineração, mas como guardiãs de suas próprias existências, decidindo sobre seus destinos, livres dos que desrespeitam a vida e a natureza. Pessoas, famílias e comunidades libertas das amarras da chamada minero dependência que sufoca as economias locais e regionais.

A não Repetição na Política de Extração Mineral:
Nossa é a Esperança que se ergue com firmeza na resistência das comunidades frente à voracidade da extração mineraria. Ansiamos por uma metamorfose, uma transformação na política de apropriação irresponsável dos dons da criação, os bens da natureza, cujas consequências têm sido violações dos direitos humanos e danos ambientais devastadores. Nossa Esperança está em nossa luta por um Estado cujas instituições estejam alinhadas com o bem comum, não subservientes às mineradoras.

As Joias – Mártires de Brumadinho:
A Esperança nossa repousa e se ergue na memória das 272 vidas, nossas 272 joias, ceifadas pela Vale em Brumadinho. Essas vidas tornaram-se joias e mártires de um crime ambiental e de um homicídio coletivo. Nossa Esperança está em celebramos essas vidas como joias de resistência. Essa joias nos inspiram na luta por justiça e reparação, transformando a tragédia em um chamado por mudança.

A Casa Comum – Mãe Terra Ameaçada:
Em relação à vida das joias que foram arrancadas de nós, sabemos que esta é irreparável. Mas essas joias nos fazem Esperançar, nos fazem florescer na preservação da Casa Comum, a Mãe Terra. Enfrentamos com esta Esperança a expansão insaciável da extração mineraria. As joias fazem de nossa Esperança o clamor pela proteção dos bens comuns da humanidade e da natureza, mesmo diante da dor e da memória, nos confirmam na crença inabalável pela vida e pela recuperação dos modos e meios de existência em nossa Casa Comum.

A Justiça e Reparação Diante da Impunidade:
Nossa Esperança é ativa, não se cansa, não espera, age e exige, persiste na luta incansável por justiça e responsabilização. A impunidade não pode triunfar, pois a dor, os crimes, os desafios de saúde mental, a contaminação nossa e de nossas crianças, persistem. Por isso Esperançamos. Esperançar é nosso intento, buscando um sistema judicial inflexível, que assegure que crimes como os da Vale em Brumadinho não fiquem sem a merecida punição.

A Reparação Perante a Devastação:
A nossa Esperança se ergue, como força profética, nos animamos e caminhamos como uma chama na busca por reparação econômica, social e ambiental, enfrentando a devastação causada pelo crime da Vale em Brumadinho. A nossa Esperança nos faz conscientes de que a vida dos que foram mortos não pode ser restaurada, mas lutamos pelo exercício do direito à participação como pessoas, famílias e comunidades atingidas, visando a reconstrução e renovação e pela retomada de nosso território que nos foi roubado pelas mineradoras.

A Peregrinação pela Justiça e Participação Popular:
A nossa Esperança é uma jornada contínua. Aqui, o grito de Esperança é uma ação, é o ato de cada dia se Esperançar. Esperançar é almejar, sonhar, buscar, agir, ou seja, é contrário de esperar passivamente. A nossa Esperança é peregrinação marcada pela fé, pela participação popular na busca por justiça. Enquanto enfrentamos a resistência das mineradoras, clamamos por espaços políticos que garantam a voz das comunidades atingidas na definição de nossos destinos, recusando projetos incompatíveis com nossas vivências e ecossistemas. A nossa Esperança é a luta por construir um Estado e com instituições não coniventes com o setor minerário e as grandes corporações. A nossa Esperança é o enfrentamento a desafios como a dificuldade de acesso à informação, o enfrentamento às práticas de criminalização dos que lutam pela vida, o enfrentamento à evasão financeira e a concentração de terras e riquezas.

Nossa Esperança se eleva de nossa fé naquele que veio para nos trazer vida e vida em abundância. Jesus. Esperançamos contra todos os “desesperançamentos” que os poderes querem nos impor. Acreditamos na Vida. 

Que Nossa Senhora da Abadia da Água Suja, padroeira e protetora dos atingidas pela mineração, nos fortaleça na Esperança!  
Frei Rodrigo Péret, ofm
Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração Leste 2 CNBB