quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

CNBB e OAB apresentam Manifesto em defesa da Democracia

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançaram hoje, 25, o Manifesto em Defesa da Democracia. A cerimônia aconteceu na sede da CNBB, em Brasília, com a presença dos presidentes das respectivas entidades - o arcebispo de Aparecida (SP), cardeal Raymundo Damasceno Assis, e o advogado Marcus Vinicius Furtado Coêlho. Participaram do lançamento autoridades civis e políticas, sacerdotes, religiosos e representantes de entidades e organismos.
O Manifesto é uma iniciativa da Rede de instituições que compõem a Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, para a mobilização em torno do Projeto de Lei de Iniciativa Popular e da defesa do Projeto de Lei (PL) 6316/2013, em tramitação na Câmara dos Deputados.
A leitura do Manifesto foi realizada pelo presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis.  “Ao lançar este manifesto, fazemos votos de que o Congresso Nacional, enquanto representante da vontade do povo brasileiro, possa levar a bom termo a esperada reforma política, para o bem do nosso país”, disse dom Damasceno. Confira a íntegra do texto:
MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA
Considerando as graves dificuldades político-sociais que afligem atualmente o País, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB –  e a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB – se veem no dever de vir a público expressar –  a exemplo do que já fizeram em ocasiões semelhantes anteriores – a convicção de que acima das divergências políticas, naturais numa República, estão a ordem constitucional e a normalidade democrática.
Aos três Poderes da República cabe relacionarem-se entre si, de maneira independente, porém harmônica e cooperativa, não se admitindo que dissensões menores ou interesses  particulares – de indivíduos ou de grupos - possam comprometer o exercício das atribuições constitucionais que a cada um deles compete exercer.
Submetidos que são tais Poderes ao primordial princípio democrático pelo qual “todo poder emana do povo e em seu favor deve ser exercido”, cumpre-nos lembrar que as decisões deles emanadas somente se legitimam se estiverem adequadas a esse princípio maior.
A inquestionável crise por que passam, no Brasil, as instituições da Democracia Representativa, especialmente o processo eleitoral, decorrente este de persistentes vícios e distorções, tem produzido efeitos gravemente danosos ao próprio sistema representativo, à legitimidade dos pleitos e à credibilidade dos mandatários eleitos para exercer a soberania popular.
Urge, portanto, para restaurar o prestígio de tais instituições, que se proceda, entre outras inadiáveis mudanças, à proibição de financiamento empresarial nos certames eleitorais, causa  dos principais e reincidentes escândalos que têm abalado a Nação, afastando-se, assim, a censurável influência do poder econômico do resultado das eleições, o que constitui uma prática inconstitucional, conforme os votos já proferidos pela maioria dos Excelentíssimos Senhores Ministros integrantes do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650),  ora em andamento naquela egrégia Corte.
Em vista do exposto, as entidades abaixo firmadas entendem inadiável a aprovação nas Casas do Congresso Nacional de uma Reforma Política Democrática que estabeleça normas e procedimentos capazes de assegurar, de forma efetiva e sem influências indevidas, a liberdade das decisões do eleitor.
Com este Manifesto, a CNBB e a OAB, unidas a inumeráveis organizações e movimentos sociais integrantes da sociedade civil, conclamam o povo brasileiro a acompanhar ativamente a tramitação, no Congresso Nacional, das proposições que tratam da Reforma Política e a manter-se vigilante e atento aos acontecimentos políticos atuais para que não ocorra nenhum retrocesso em nossa Democracia, tão arduamente conquistada.
Para tanto, é necessário que todos os cidadãos colaborem no esforço comum de enfrentar os desafios, que só pode obter resultados válidos se forem respeitados os cânones constitucionais, sem que a Nação corra o risco de interromper a normalidade da vida democrática.
Por fim, reivindicam as entidades subscritoras que, cada vez mais, seja admitida e estimulada a participação popular nas decisões que dizem respeito à construção do futuro da Pátria, obra comum que não pode dispensar a cooperação de cada cidadão, de cada organização, dando-se, assim, plena eficácia ao conteúdo do artigo 14 da Constituição da República. 
FONTE: CNBB

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

"Combateremos o capitalismo como fizemos com o comunismo", afirma novo cardeal

"Devemos combater o capitalismo como combatemos o comunismo. São os males da humanidade." Como padre de rua,Edoardo Menichelli está na linha de frente contra "desemprego e pobreza".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 15-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Edorardo Menichelli, arcebispo de Ancona-Osimo, é um dos dois italianos nomeados cardeais no sábado passado. O outro éFrancesco Montenegro, arcebispo de Agrigento, que abrange Lampedusa
Eis a entrevista.
O que agrava a crise?
Se no centro está o dinheiro, a pessoa perde sentido, e a sociedade se torna um deserto de valores. A economia reduzida a finança mata, e os danos estão diante dos olhos de todos. Que os políticos pensem nas pessoas e não nos partidos. São necessárias solidariedade e sobriedade: políticas de trabalho para todos. É preciso recomeçar dos últimos, dar novamente dignidade à pessoa, eliminar injustiças.
Mais compromisso com o social?
A dimensão social é parte integrante da fé. Na Evangelii gaudiumFrancisco adverte contra as ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Bento XVI já havia pedido uma autoridade política mundial que direcione o sistema financeiro e monetário à função de conceder crédito a trabalhadores,as famílias, empresas e comunidades locais.
O que mais a Igreja pode fazer?
A misericórdia deve orientar todas as ações para socorrer aqueles que perderam o trabalho, vivem em desconforto humano e correm o risco de perder a identidade social. A Igreja é chamada a se mostrar sensível e atenta. Não devem prevalecer oligarquias políticas que ignoram as exigências da sociedade civil e criam separação entre classes dominantes e população. A globalização deve ser orientada ao bem comum. E a Igreja "em saída" deve sempre estar em campo contra o egoísmo e o relativismo.
Fonte: IHU

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Campanha da Fraternidade 2015: Igreja e Sociedade

Neste ano, são comemorados os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, um dos eventos mais importantes da Igreja no século XX. Esse encontro de bispos do mundo inteiro foi realizado de outubro de 1962 a outubro de 1965. “O Concílio Vaticano II veio iluminar a missão da Igreja que é evangelizar. Evangelizar pelo testemunho dialogando com as pessoas e a sociedade. No diálogo a Igreja (as comunidades), está a serviço de todas as pessoas. Ao servir ela participa da construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e de paz. No serviço ela edifica o Reino de Deus.” 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe uma reflexão mais ampla sobre o Concílio, por meio da Campanha da Fraternidade (CF), que será aberta oficialmente, em âmbito nacional, na Quarta-Feira de Cinzas, 18 de fevereiro. Na última parte do Texto Básico da CF2015, a parte do “agir”,  menciona a Reforma Política e a participação da Igreja Católica que integra a “Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas”.

De acordo com o texto básico da CF 2015, o objetivo geral da CF 2015 é:

Aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.

E os objetivos específicos são:

1. Fazer memória do caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, identificar e compreender os principais desafios da situação atual.
2. Apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da doutrina Social da Igreja, como elementos autenticamente humanizantes.
3. Identificar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral.
4. Aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas.
5. Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa, família e sociedade.
6. Atuar profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária.

O cartaz da CF 2015 retrata o Papa Francisco lavando os pés na Quinta feira Santa de 2014. A Igreja atualiza o gesto de Jesus Cristo ao lavar os pés de seus discípulos. O lava pés é expressão de amor capaz de levar a pessoa a entregar sua vida pelo outro. É com este amor que todo ser humano é amado por Deus em Jesus Cristo. Ao entregar-se à morte de cruz e ressuscitar, como celebramos na Páscoa. Jesus leva em plenitude o ‘Eu vim para servir’ (cf. Mc 10,45).

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Não deixo Trípoli, eu tenho os fiéis para proteger!!!

Não deixo Trípoli, eu tenho os fiéis para proteger!!!
Palavras do Bispo Francisco, Dom Martinelli, bispo sitiado em sua igreja, em Trípoli, na Líbia: "comigo 300 filipinos aterrorizados"

"Deixar Trípoli?" O timbre é decidido, claro: "Como posso sair. Eu tenho que ficar, por enquanto, aqui ainda há um grupo de cristãos que precisam ser assistidos. É Dom Giovanni Innocenzo Martinelli, Vigário Apostólico de Trípoli , que responde ao telefone da igreja.

A Igreja de São Francisco está a poucas dezenas de metros da embaixada italiana. Em um país com 100 por cento de muçulmanos, o mesmo Muammar Gaddafi havia deixado que a Igreja Católica tivesse a oportunidade de assistir o seu rebanho.A comunidade católica contava com trabalhadores estrangeiros, e era se estimava que eram cinqüenta mil pessoas.

Leia a entrevista feita por telefone com o bispo.

Dom Martinelli, quantos cristãos restaram em Trípoli?
"Cerca de trezentos filipinos."
Os nossos compatriotas (italianos) foram convidados a deixar a Líbia. O senhor decidiu ficar.
Não tem medo? Qual é a situação?
"Realmente é o que lemos nos jornais. Quase todos os estrangeiros estão deixando o país. Eu não tenho medo. Agora eu não tenho medo. Mas eu sei que o tempo virá quando eu terei medo".
Realmente as milícias jihadistas, o impiedoso de Daesh, a Isis, também chegaram à Trípoli?
“Estão sim. Nós e eles procuramos  servir o nosso Deus. Quer saber o que eu acho que vai acontecer? Digamos que eu vejo um futuro em nada maravilhoso. Espero em um repensar universal de todos. "
Neste momento, a comunidade internacional está incerta sobre o que fazer. Assumir uma intervenção militar. Você concorda?
"Eu acho que não é apropriado. Mas não cabe a mimjulgar."
O Alto Comissario das Nações Unidas, Leon, está encontrando todos os protagonistas da situação da Líbia, tentando trilhar o caminho de um governo de reconciliação nacional.
"Todos os caminhos são bons, mas temos de ver se eles são aceitos."
Pelas milícias?
"Eles são os únicos que têm tudo na mão. Há necessidade de boa vontade para encontrar um terreno comum."
Enquanto isso, no Canal da Sicília se continua a morrer de frio ou de naufrágios. Há muitos imigrantes que querem deixar a Líbia?
"Infelizmente, eles são muitos. Mais do que um problema político do meu ponto de vista, é um problema humano. É gente que vai em busca da sorte, para construir um futuro, um futuro digno ".
Quem gere o tráfego de imigrantes ilegais?
"Os líderes étnicos. Eles são a nova máfia »..

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Dia Internacional de Oração contra o Tráfico de Pessoas

A exploração física, econômica, sexual e psicológica de homens e mulheres, meninos e meninas mantêm atualmente dezenas de milhões na escravidão desumana e humilhante. Todo o ser humano - homem, mulher, menino e menina - é imagem de Deus; Deus, que é amor e liberdade, que se doa por meio de relações interpessoais; portanto, cada ser humano é uma pessoa livre, destinada a viver para o bem dos outros em igualdade e fraternidade. Cada pessoa e todas as pessoas são iguais e sua liberdade e dignidade devem ser reconhecidas. Qualquer relacionamento discriminante que não respeite a crença fundamental de que "o outro é igual a mim" é um crime, e muitas vezes um crime abominável.
É por isso que nós declaramos em nome de todas as pessoas e cada um de nosso próprio credo que a escravidão moderna - na forma de tráfico de seres humanos, o trabalho forçado, prostituição e tráfico de órgãos - é um crime "contra humanidade ".
DISCURSO DO PAPA Francisco
(Declaração Conjunta de Líderes Religiosos contra a Escravidão Moderna, cidade do Vaticano, 02/12/2014)

Clique aqui para baixar a Vigília de Oração.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Papa reconhece Dom Oscar Romero como mártir

O Papa Francisco ao declarar o Bispo Oscar Arnulfo Romero como mártir, reconhece as milhares de pessoas que também defenderam e lutaram pela vida, pela liberdade e pela justiça, por essa nossa América Latina, nos tempos das ditaduras militares. Reconhece a todos os que lutaram e lutam a partir da fé até os dias de hoje.


Óscar Romero foi assassinado quando celebrava a missa, em 24 de março de 1980, por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado na Escola das Américas (EUA).

"Com fé cristã sabemos que neste momento a hóstia de trigo torna-se o corpo do Senhor, que se ofereceu para a redenção do mundo e nesse cálice o vinho se torna o sangue que foi preço da salvação. Que este corpo imolado e este sangue sacrificado pelos homens também nos nutra também para dar o nosso corpo e nosso sangue ao sofrimento e à dor, como Cristo, não para si mesmo, mas para dar colheitas de justiça e paz para o nosso povo. Unamo-nos pois, intimamente na fé e esperança  a este momento de oração pela Dona Sarita e para nós ...

„Con fe cristiana sabemos que en este momento la hostia de trigo se convierte en el cuerpo del Señor que se ofreció por la redención del mundo y que en ese cáliz el vino se transforma en la sangre que fue precio de la salvación. Que este cuerpo inmolado y esta Sangre Sacrificada por los hombres nos alimente también para dar nuestro cuerpo y nuestra sangre al sufrimiento y al dolor, como Cristo, no para sí, sino para dar cosechas de justicia y de paz a nuestro pueblo. Unámonos pues, íntimamente en fe y esperanza a este momento de oración por Doña Sarita y por nosotros......

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Volume de água outorgado abasteceria seis Minas Gerais


A imagem que se tem da crise hídrica no Brasil é a de torneiras vazias e reservatórios tomados por terra rachada característica de sertão. Mas o que quase ninguém vê é a seca abaixo do solo, nos lençóis freáticos, e a que atinge nascentes e cursos de rios. A cada segundo, 224,4 mil litros de água bruta são explorados em Minas dessas fontes naturais, por meio de outorgas – autorizações concedidas, gratuitamente ou a preços mínimos, a indústrias, mineradoras, produtores rurais, companhias de saneamento etc.
Se esse volume for contabilizado em 24 horas, chega a 19,3 bilhões de litros, número 16 vezes superior ao consumo diário da região metropolitana de Belo Horizonte (1,2 bilhão de litros), que enfrenta escassez.

A mesma quantidade daria para abastecer seis Minas Gerais, considerando apenas o consumo doméstico por habitante, em média, 159 litros de água por dia – o que totaliza 3,2 bilhões de litros para uma população de 20,7 milhões de pessoas.

E os que mais exploram o recurso são os que menos pagam por ele. Apenas 21,8% da água bruta outorgada é destinada ao consumo humano. A maioria (69,3%) vai para agricultura, indústria e mineração. Esses setores, até agora, estão isentos, em Minas, de restrições, multas e sobretaxas discutidas nos planos de racionamento.

Preço da água. Das 36 bacias hidrográficas do Estado, apenas 11 cobram pela água captada, e o preço varia de R$ 0,01 a R$ 0,028 por m³ (1.000 litros) – e isso apenas para usos considerados “significativos” . “É um valor muito aquém do que seria justo pelo serviço ambiental que o rio exerce”, avalia o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano.

Estudos feitos em duas das principais bacias de Minas – Rio das Velhas (que abastece a região metropolitana) e São Francisco – alertam que o volume de água captada por meio de outorgas está acima da capacidade reposição dos rios. De acordo com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que concede as licenças, o Estado tem, atualmente 16.209 outorgas, sendo 11.003 (67,8%) para uso de água subterrânea e 5.206 (32,2%), de superfície.

Embora o recurso hídrico do subsolo seja renovado pela água da chuva, a retirada excessiva – aliada à impermeabilização do solo provocada pela urbanização – tem ajudado a baixar os lençóis d’água, que alimentam as nascentes de rios em épocas de estiagem e impactam todo o ecossistema. “As pessoas estão usando a água subterrânea como se fosse um sistema inesgotável”, afirma o presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda.

Capacidade. O Igam defende que o volume licenciado no Estado (224,45 mil l/s) “corresponde a aproximadamente 30% da quantidade outorgável em Minas Gerais”. No entanto, esse levantamento é feito com base na quantidade de água autorizada no ato da concessão da outorga, sem que haja controle rotineiro sobre o total gasto.

“Tem que discutir qual volume as empresas realmente precisam, quem está fiscalizando e quanto estão pagando pela água”, declara o ambientalista Apolo Heringer, coordenador do projeto Manuelzão.
FONTE: O TEMPO

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Novos perfis de família - por Frei Betto

Maria Antônia, bebê gaúcho, tem duas mães, um pai, seis avós! Nascida em Santa Maria, em setembro de 2014, o juiz Rafael Cunha autorizou seu registro de nascimento.

Os pais são Fernanda, Mariani e Luis Guilherme, que engravidou uma das moças e fez questão de ter seu nome na certidão de nascimento. O juiz reconheceu legalmente que Maria Antônia nasceu em um "ninho multicomposto”.

Desde que resolução do Conselho Federal de Medicina, em 2013, permitiu a utilização de técnicas de fecundação "in vitro” por casais homoafetivos, cresceu no Brasil o número de crianças registradas em nome de dois pais ou duas mães.

O preconceito ainda impede que muitos reconheçam o óbvio: o perfil da família já não se restringe ao da relação monogâmica heterossexual.

Quem melhor percebe essa mutação é o papa Francisco que, em vez de se fingir de cego, como papas anteriores frente aos fenômenos da pós-modernidade, convocou um sínodo para debater o tema. Precedido por reunião extraordinária em outubro de 2014, o Sínodo da Família terá lugar em Roma, em outubro deste ano.

No questionário remetido a todas as dioceses do mundo, o papa pergunta como os católicos encaram casais recasados, a homossexualidade e outros temas considerados polêmicos no interior da Igreja. Francisco quis ouvir as bases, num gesto inédito de democratização da instituição eclesiástica.
É o fim da família? A família é uma estrutura cultural, não natural. Tal como a conhecemos hoje, existe há apenas meio milênio. Aliás, hoje se multiplicam as famílias monoparentais, cujo "chefe” é a mãe. Em comunidades indígenas, a qualidade de proteção e afeto às crianças faz a todos nós, "civilizados”, corar de vergonha.

Para quem, como eu, foi educado no catolicismo à luz de estampas da Sagrada Família, não é fácil acolher os novos perfis de relações afetivas. Porém, ao abrir o Evangelho , nos deparamos com algo distinto do modelo devocional: o jovem Jesus que se desgarra do cuidado dos pais e abandona a caravana de peregrinos; o pregador ambulante que não merece a credibilidade de seus irmãos ( João 7,5) e a família o tem na conta de "louco” ( Marcos 3,21-31); o filho que parece rejeitar a própria família: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” ( Mateus 12, 48).

Quando exclamaram a Jesus "Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram”, ele não desmentiu, mas assinalou a diferença: "Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam.” ( Lucas 11, 27-28).

Jesus enfatizou que não são os laços de sangue que mais aproximam as pessoas, e sim o projeto comum que elas assumem.

Projetos alternativos criam conflitos. Jesus chegou a falar em "odiar” a própria família ( Lucas 14, 26). O verbo grego miseo (=odiar) pode ser traduzido por "amar menos”: "Se alguém quer me seguir e não prefere a mim mais que a seu pai e sua mãe...”
Frente ao modelo de família-gueto, centrada no umbigo de seus membros e avessa a estranhos e necessitados, Jesus propôs um modelo de família aberta, centrada no afeto, na gratuidade e na abertura ao próximo.

A família do século XXI já não será apenas a que possui em comum características biológicas, e sim a que o amor aproxima e une pessoas comprometidas com um projeto comum de vida, que estabelece entre elas profundas relações de intimidade e reciprocidade.
E há que lembrar que, em sua recente visita à Ásia, o papa Francisco rogou aos fiéis católicos que evitem "ser como coelhos”, procriando irresponsavelmente. Um sinal de que os métodos contraceptivos, como o uso do preservativo, serão afinal aceitos pela Igreja Católica?
Fonte: ADITAL