sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Contra a criminalização dos(as) atingidos(as) pela mineração

 


Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração CNBB Leste 2

Rede Igrejas e Mineração MG

 

Manifesto contra a criminalização dos atingidos(as) pela mineração

“O caminho do culpado é tortuoso, mas a conduta do inocente é reta" (Provérbios 21,8)

O livro de provérbios nos chama atenção para o fato de que quem segue a justiça e a beneficência achará a vida, a justiça e a honra. Diante do trecho retirado do Livro dos Provérbios, podemos inferir que vida é feita de escolhas, e, quem escolhe o caminho da justiça colherá honra. Por sua vez, a quem escolhe o caminho da iniquidade restará o que plantou.

Tendo enquanto orientação este ensinamento, a Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração CNBB Leste 2 e a Rede Igrejas e Mineração vem manifestar, por intermédio desta nota, sua indignação em relação às condutas das empresas criminosas Vale, SAMARCO E BHP BILINTON, as quais vêm através de ações diversas buscando penalizar cível e criminalmente pessoas atingidas. Há a partir destas condutas incontestável inversão de papéis, onde as vítimas são obrigadas a seguir um caminho tortuosos, ocasionado pelo jogo da poder protagonizado pelas empresas causadoras dos danos, enquanto estas têm o protagonismo para agir e definir as regras como se seguissem o caminho da justiça e da conduta reta.

No contexto de criminalização da luta das pessoas e comunidades atingidas, vigora o esquecimento de que em novembro de 2015, com o rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG), as vidas de 20 pessoas foram ceifadas, houve, além disso, a morte do Rio Doce e seus afluentes. Milhares de histórias de vidas humanas e não humanas foram, e seguem sendo destruídas.

Neste mesmo cenário, deixam de considerar também, que enquanto os atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão seguiam em luta pela reparação integral, ainda em 2019, mais um crime ocorreu. Houve o rompimento da Barragem B I, B IV e B IV A, da Mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), também de propriedade da empresa Vale S.A, O crime de Brumadinho chocou o mundo, não somente por seus graves impactos ambientais, mas especialmente devido ao número de vidas ceifadas. O rompimento resultou no óbito de 272 pessoas, na morte do Rio Paraopeba, alcançando a Represa de Três Marias. 

É importante salientar que até a presente data, nenhum executivo, diretor ou engenheiro de nenhuma das referidas empresas foi devidamente responsabilizado por ambos os crimes. Do mesmo modo, não houve a responsabilização adequada das empresas. Em contrapartida, centenas de milhares de vítimas permanecem sem as devidas indenizações pelos danos experimentados de forma continuada, num cenário marcado, como já mencionado anteriormente, pela sua criminalização. 

Dentre tantas as tentativas de criminalização das pessoas atingidas, destacamos aqui, condução de Marino D’Angelo, atingido de Paracatu de Cima e membro da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF) à delegacia da Policia Civil de Ouro Preto no último dia 2 de setembro de 2023, bem como um episódio vivenciado por Arlinda.

Arlinda foi criminalizada ao reivindicar seu direito legitimo à moradia no reassentamento de Paracatu, pois era moradora do território de origem, e, além disso, as diretrizes homologadas em sede de Ação Civil Pública garantem a ela a restituição do direito à moradia. No entanto, mesmo assegurada judicialmente, ao pleitear a restituição do direito à moradia, Arlinda foi presa, e teve que pagar 6 mil reais de fiança. Este foi mais um caso de limitação ao direito à liberdade de expressão e manifestação constitucionalmente garantidos. Fatos similares ao de Arlinda aconteceram em Antônio Pereira e em Conceição do Mato Dentro, aonde as mineradoras Vale e Anglo American utilizaram de meios processuais para intimidar, criminalizar e até mesmo restringir a participação de lideranças em protestos e manifestações em que reivindicavam seus direitos. 

Marino estava em um terreno de sua propriedade, quando funcionários da Fundação Renova compareceram ao local para realizar obras em seu imóvel, sem a devida autorização do mesmo, tendo em vista que o acordo firmado verbalmente entre as partes era de que nada seria executado no terreno até que fossem resolvidas as questões do processo de reparação, no âmbito individual. Sendo assim, Marino solicitou que os trabalhadores da Fundação Renova se retirassem do local. 

A Fundação Renova além de se recusar a deixar a propriedade, como seria devido, acionou as autoridades policiais de Mariana, as quais conduziram Marino coercitivamente à Delegacia de Polícia Civil de Ouro Preto. Houve, neste fato uma tremenda inversão de papeis, pois, em que pese a Fundação Renova tenha invadido uma propriedade, conforme previsto pelo artigo 150 do Código Penal, Marino, vítima do rompimento e deste crime, foi tratado como infrator.  

Do mesmo modo, também vivenciamos inversões dos papeis no âmbito da reparação dos crimes cometidos pelas mineradoras, a partir do advento da resolução de conflitos socioambientais baseada nas “soluções negociadas”. Tal paradigma se consubstancia, em geral, na transferência do espaço de tomada de decisões que antes ocorriam no âmbito político e legislativo (como no caso da ALMG), bem como no âmbito do Judiciário (em processos judiciais em curso), para negociação e conciliação com as empresas causadoras dos danos.

O argumento para esta mudança de paradigma se sustenta na ideia de que, ainda que houvessem decisões judiciais favoráveis, o risco não valeria a pena, pois, as empresas poderiam recorrer às instâncias superiores, fator de resultaria em processos morosos e diminuição das indenizações. Manter as negociações nas mãos das empresas causadoras dos danos significa dar a estas o poder de decidir quem foi atingido, interferindo em questões centrais relacionadas à reparação de direitos difusos, coletivos e individuais.

Neste sentido, para além da constante criminalização da luta das atingidas e atingidos pela reparação integral, também é importante denunciar os novos moldes de negociação nos quais as empresas rés possuem centralidade. 

Por fim, além das denuncias gostaríamos de expressar nossa compaixão e pedimos a nosso bom Deus, justiça à Marino, e à sua família e a todas as pessoas atingidas, que veem sofrendo diariamente violações de seus direitos e sendo criminalizadas por lutarem pela efetivação de seus direitos.

Já diria o livro de provérbios: “O que justifica o ímpio, e o que condena o justo, ambos são abomináveis ao Senhor, tanto um como o outro.” (Provérbios 17,15)

Belo Horizonte – MG, 20 de setembro de 2023

Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração CNBB Leste 2

Rede Igrejas e Mineração Minas Gerais



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Escola Ecumênica por uma Economia da Vida e Justiça Ecológica.

 


Em Kuala Lumpur, Malásia – uma cidade de contrastes socioeconômicos – de 21 de agosto a 1 de setembro, foi realizada a 6ª edição da Escola Ecuménica de Governaça, Economia e Gestão para uma Economia da Vida (Escola GEM 2023) reuniu 24 participantes para repensar a economia sistemas para um planeta mais equitativo e sustentável.

Os participantes vieram de mais de 20 países na África, Ásia, Caribe, Europa, América Latina, Oriente Médio, América do Norte e no Pacífico, incluindo líderes religiosos, pastores e estudantes de teologia, bem como especialistas em finanças, defensores da justiça econômica e ecoativistas, com o objetivo de promover um diálogo e aprendizado intergeracionais e multidisciplinares.

O programa explorou as interseções entre a fé e a justiça econômica por meio de estudos bíblicos, capacitou os participantes com treinamento básico em economia e ferramentas de advocacia, e examinou pensamentos econômicos alternativos e recomendações de políticas.

“A Escola GEM refletiu sobre questões inter-relacionadas de desigualdades socioeconômicas gritantes, bem como a questão premente da sustentabilidade. Entre outros tópicos, as palestras e discussões se concentraram nas raízes da desigualdade, na complexa relação entre economia e meio ambiente, e na urgente necessidade de novas visões econômicas, indicadores, políticas e estruturas de governança econômica, essenciais para a coconstrução de um planeta mais justo e sustentável”, disse Athena Peralta, executiva de programa do Conselho Mundial de Igrejas para Justiça Econômica e Ecológica.

Ao final do programa, os participantes, com base em suas trocas e aprendizados ao longo de quase duas semanas, apresentaram uma variedade de propostas de projetos. O Rev. Karthik Sibanayam compartilhou um plano para seminários teológicos na Malásia refletirem sobre questões de justiça econômica como parte do currículo. 

Ampri Samosir, Patricia Mungcal, Rev. Chi-Kang Chiang e Rev. Vavauni Ljalgajean apresentaram uma ideia conjunta focada na construção de redes, aprendizado mútuo e defesa das interseções entre a justiça climática e econômica na Indonésia, nas Filipinas e em Taiwan.

Várias propostas destacaram a justiça fiscal e reparações. Bruno Reikdal Lima compartilhou uma proposta para um projeto de comunicação para superar percepções negativas sobre impostos, vincular a justiça fiscal à vida cotidiana das pessoas e aprofundar a campanha Zacchaeus Tax para a justiça tributária global no Brasil. Vindo do contexto de Belize - um pequeno estado insular vulnerável ao clima - o Fr. Rudolph Dawson propôs desenvolver uma campanha vinculando a justiça tributária e reparações por perdas e danos relacionados ao clima no Caribe.

Florence Iminza, do Quênia, também compartilhou uma proposta para iniciar uma pesquisa como base para o trabalho das igrejas em prol de uma tributação justa, incluindo as indústrias extrativas na África. Para Iminza, uma lição-chave da Escola GEM é que "sistemas de tributação justa são obrigatórios para uma nova ordem econômica internacional. É necessário que a comunidade global das igrejas construa solidariedade por uma economia alternativa de vida"

.Wilfred Rigamoto, que está desenvolvendo um projeto sobre indicadores alternativos que apoiam uma narrativa de desenvolvimento indígena no Pacífico, não poderia concordar mais: "Com solidariedade e o poder das pessoas, podemos ser e fazer a mudança que desejamos ver no mundo!"

A Escola GEM foi hospedada pelo Conselho de Igrejas da Malásia e convocada pelo Conselho Mundial de Igrejas, Comunhão Mundial Reformada, Federação Luterana Mundial, Conselho Mundial Metodista e Conselho para a Missão Mundial como parte da iniciativa Nova Arquitetura Financeira e Econômica Internacional.

Fonte: Conselho Mundial de Igrejas




quinta-feira, 29 de junho de 2023

Comissão Ecologia Integral e Mineração - Campanha Junho Verde 2023

Nesse primeiro JUNHO VERDE, a recém-constituída Comissão Episcopal Regional para Ecologia Integral e Mineração (CEREM) Leste 2, propõe uma reflexão e escuta dos gritos, sobretudo das irmãs e irmãos atingidos e atingidas pelo desastre-crime da Samarco na Bacia do Rio Doce. Tal tragédia ambiental provocou o derramamento de 39 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e outros resíduos poluentes no meio ambiente, deixou 19 mortos, destruiu comunidades inteiras e impactou dezenas de municípios ao longo da bacia do Rio Doce até a foz, no Espírito Santo. Neste sentido a CEREM manifesta seu veemente apoio às reivindicações da articulação das pessoas atingidas e organizações populares da Bacia do Rio Doce e Litoral Capixaba “Por um Rio Doce vivo, limpo e sem fome”.




quarta-feira, 7 de junho de 2023

Julgamento do Marco Temporal - Em defesa dos Guardiões da Criação

 

A serviço da justiça, fraternidade e da solidariedade, 🚩 Mobilização contra o Marco Temporal! 🌍💔✊

Hoje, a partir das 14h (horário de Brasília), o STF retoma o julgamento sobre o Marco Temporal. A sessão será transmitida de forma virtual pelo o canal no Youtube do STF. Convocamos TODOS a se mobilizarem contra a violência imposta aos nossos irmãos e irmãs indígenas para assegurar os direitos dos verdadeiros guardiões dessa terra.

Neste dia, utilize suas redes sociais para pressionar os ministros e ministras que participarão da votação, faça ecoar o amor de Deus pela Criação, junte-se a nós nas ruas e nas redes sociais! Caso seja possível, participe do Acampamento Nacional Contra o Marco Temporal na Praça da Cidadania (Brasília, DF). 

Para apoiar nossos irmãos e irmãs indígenas e se manter informado siga @apiboficial e outras organizações regionais indígenas de base para fortalecer a luta dos povos indígenas: @apoinme_brasil, @coiabamazonia, @cons.terena, @atyguasu, @yvyrupa.cgy, @arpinsudestesprj


#MarcoTemporalNÃO

#PreservarACriação

#DemarcaçãoJá

#NossoDireitoÉOriginário

terça-feira, 28 de março de 2023

Revisão Periódica Universal dos Direitos Humanos no Brasil, na ONU em Genebra

 

Declaração de Franciscans  International, apresentada por Dom Vicente Ferreira, secretário da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, na 52a Sessão da Conferência de Diretos Humanos da ONU, em Genebra, durante a adoção pelo Brasil das recomendações do Relatório da Revisão Periódica Universal RPU.


Dom Vicente Ferreira apresentando a Declaração da FI 

RPU

A Revisão Periódica Universal é um mecanismo de avaliação da situação dos direitos humanos nos 193 Estados membros da ONU. A revisão do Brasil, iniciada no ano passado teve sua conclusão, nesta terça-feira, 28 de março de 2023. 

O processo que perticipamos

O SINFRAJUPE em parceria com Franciscans International, articulou, em 2022, uma série de organizações: a Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração (CEEM) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Central Única dos Trabalhadores – CUT, Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração – CNDTM; O Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS); Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Nova Central Sindical de Trabalhadores, Rede Igrejas e Mineração. Essas organizações apresentam então um relatório com informações sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, relacionadas aos impactos no gozo dos direitos humanos causados pelas indústrias extrativas, particularmente as atividades de mineração.

Em novembro, a ONU divulgou o relatório com as recomendações dos Estados-membros.

Nesta terça-feira, 28 de março de 2023, em Genebra, no 52° período de sessões do CDH/ONU, houve a sessão da adoção do relatório final do 4° ciclo da Revisão Periódica Universal dos Direitos Humanos no Brasil. Importante lembrar que as recomendações aceitas por um Estado na sessão plenária do Conselho de Direitos Humanos são um compromisso perante os outros Estados e a população do País.

Posição do Brasil

Durante a adoção da UPR o Brasil, aceitou todas as recomendações relacionadas ao direito a um meio ambiente saudável, o direito à água e aquelas relacionadas às atividades de mineração. 

O Embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Tovar da Silva Nunes, afirmou  a mudança de postura da política externa para direitos humanos do atual governo. “Tenho o prazer de anunciar que desde que o novo governo assumiu o cargo em janeiro deste ano, o Brasil reavaliou sua posição em relação às recomendações recebidas durante a sua RPU e procurou alinhar as novas políticas nacionais de direitos humanos com os compromissos e obrigações que o país assume a nível internacional”.

Nossa reflexão

O governo brasileiro deu um passo fundamental considerando as medidas, leis e políticas regressivas adotadas no ano passado. No entanto, em nossa declaração, também pedimos ao governo que tome medidas rápidas e proativas para implementá-las, garantindo ao mesmo tempo que as vítimas de violações de direitos humanos, especialmente aquelas resultantes de atividades comerciais, tenham garantia de um remédio eficaz. 




terça-feira, 21 de março de 2023

Nota da CPT-MG em repúdio à violência e injustiça agrária do governador Zema em Minas Gerais

 

Malditas sejam todas as cercas!Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos, para ampararem cercas e bois e fazerem da terra escrava e escravos os homens! (D. Pedro Casaldáliga)

Ai daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem apressadamente sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres do meu povo, para fazer das viúvas a sua presa e despojar os órfãos” (Profeta Isaías 10,1-2).

A Comissão Pastoral da Terra, Regional Minas Gerais (CPT/MG), reunida em Conselho nos dias 17, 18 e 19 de março de 2023, em Sabará-MG, vem por meio desta manifestar seu repúdio veemente à política violenta do Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, contra os pobres do campo, os Povos e as Comunidades Tradicionais, os sem terras e os camponeses e as camponesas. As mensagens divulgadas oficialmente pelo Governador de Minas Gerais e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) revelam apenas parte da política de violência desse governo, que estimula ações injustas e ilegais, de mãos dadas com a ideologia ditadura e o autoritarismo. De forma inconstitucional, Zema ataca um instrumento de luta popular que é a ocupação de terras devolutas e improdutivas, “propriedades” que não cumprem sua função social, que, segundo a Constituição de 1988, devem ser destinadas para Reforma Agrária. E ele vai além, quando estimula a violência contra pessoas que “acampam” ou “aglomeram” nas beiras das estradas, assim atiça os grupos armados para cometer crimes e injustiças, como vimos ocorrer nos últimos quatro anos sob o manto do fascismo.

O Estado de Minas Gerais tem sido nos últimos anos o campeão em trabalho análogo à escravidão, e esta brutal violência conta com a omissão e a cumplicidade do Governador, que defende os setores que destroem a natureza e precarizam de forma extrema a mão de obra. Zema protege os grandes proprietários que escravizam pessoas e as mineradoras que cometem crimes inimagináveis, como as criminosas reincidentes mineradoras Samarco e a Vale S/A. Zema governa beneficiando as grandes mineradoras que, como dragões do Apocalipse, continuam fazendo mineração predatória, mesmo após dois grandes crimes/tragédias cometidos pelas mineradoras Samarco, Vale e a anglo-australiana BHP Billiton (Mariana – 2015) e pela Vale (Brumadinho – 2019).  A violência do Estado, através da Policia Militar (aparelho repressor) tem crescido, o que é inadmissível.

Em 2014 foi criada a Comissão Estadual para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CEPCT). Nos últimos anos, a CEPCT tem reconhecido novas identidades de Povos e Comunidades Tradicionais, porém o governador não tem realizado a emissão dos Certificados (selos) para entrega do Certificado de Autodeclaração às Comunidades Tradicionais e, assim, tem violado direitos inscritos na Constituição Federal e emTratados Internacionais como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) da Organização das Nações Unidas (ONU).

O discurso do Governador Romeu Zema: “Nós fazemos questão de dar paz para o homem do campo, através de uma segurança reforçada e também inibindo qualquer tipo de invasão. Cerca existe para ser respeitada. Aqui em Minas não vamos tolerar invasão. O homem do campo precisa de segurança e paz para trabalhar …” apenas reforça a sua política da morte, dos privilégios e das benesses aos grileiros de terras, que sustentam o sistema coronelista dos grandes latifundiários do agronegócio e das empresas mineradoras, siderúrgicas e monocultoras de eucalipto. Sua antipolítica reforça a concentração de terras, de poder e de destruição ambiental, e ameaça os povos e as comunidades que produzem alimentos e lutam por um lugar para viver.

Zema esquece de dizer que em pleno  2023, o Programa de Proteção aos Defensores e Defensoras de Direitos Humanos de Minas Gerais (PPDDH-MG) tem quase 100 lideranças ameaçadas de morte; 13 indígenas e 23 quilombolas que são acompanhados pelo PPDDH, e que o Governo de Minas em 2022, por meio da polícia militar, foi um dos Estados que mais realizou ações de violência contra as populações do campo, ficando atrás somente dos latifundiários que, no Norte de Minas, possuem milícias armadas.

O Governador Zema garante a segurança e paz para os grandes fazendeiros, porém, não oferece essa mesma garantia para homens e mulheres que trabalham no campo, pois nos últimos 10 anos, ou seja, desde 2013, Minas Gerais tem sido o estado com maior índice de trabalhadoras e trabalhadores resgatados em situação de trabalho escravo pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM). Em 2022 foram 1.070 pessoas libertas do trabalho escravo em Minas Gerais. O Governador deveria solicitar ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA-MG) a desapropriação destas fazendas para fim de reforma agrária e à Polícia Civil a prisão dos envolvidos no crime de trabalho escravo, conforme prevê o Artigo 243 da Constituição Federal. 

Paz no campo é nosso sonho, mas só teremos quando houver justiça agrária e socioambiental, o que exige a superação do latifúndio e do coronelismo em Minas Gerais, estado que tem 22,2% do seu território como terras devolutas todas griladas por empresas eucaliptadoras. Ocupar propriedades que não cumprem função social não é invasão, é OCUPAÇÃO, instrumento de luta por direito à terra já reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) como legítima e necessária para forçar o Estado a cumprir suas obrigações constitucionais. Cerca injusta não deve ser respeitada, conforme denuncia o profeta dom Pedro Casaldáliga: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos  para ampararem cercas e bois e fazer a Terra escrava e escravos os humanos!”

Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG)

Belo Horizonte, MG, 21 de março de 2023.

sábado, 11 de março de 2023

Termina a Etapa Continental do Sínodo - Regional do Cone Sul

 

Participantes da Etapa Cone Sul do Sínodo - Foto CELAM

Assembleia do Cone Sul, da Fase Continental do Sínodo 2021-2024 foi realizada em Brasília de 6 a 10 de março, concluindo assim as Assembleias Regionais do nosso Continente Latino Americano. A assembleia de Brasília contou com a participação de 180 representantes da Igreja Católica da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil. A iniciativa faz parte da série de quatro encontros promovidos pelo Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), é parte do processo convocado pelo Papa Francisco, cujo tema é "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão».

Continuidade do processo sinodal:

Na sequencia, a Equipe da Fase Continental se reunirá com delegados para redigir a Síntese Continental de 17 a 20 de março em Bogotá, Colômbia. E de 21 a 23 de março, os secretários gerais, pessoalmente, e os presidentes das conferências episcopais, virtualmente, farão uma releitura colegiada da experiência sinodal vivida, a partir de seu carisma e responsabilidade específicos, mas respeitando o processo realizado e sendo fiéis ao diferentes vozes do Povo de Deus.

Antes de 31 de março de 2023, este documento será enviado à Secretaria Geral do Sínodo para formar, juntamente com os dos outros seis continentes, a base do Instrumentum Laboris da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá sua primeira sessão em outubro deste ano e sua segunda sessão em outubro de 2024.

Metodologia:

Na América Latina e no Caribe foram realizados quatro encontros, de 13 de fevereiro a 10 de março, regiões Centroamérica - México foi em El Salvador, Caribe na República Dominicana, Bolivariana em Quito e Cone Sul em Brasília. Foram reuniões exclusivamente presenciais, cada uma com composição eclesial de 55% leigos e 45% bispos, sacerdotes, diáconos e vida religiosa. Foi utilizada a metodologia da “Conversa Espiritual”, ferramenta de discernimento comunitário, baseada na escuta ativa e receptiva com foco na partilha do que toca aos participantes mais profundamente.

Conversa Espiritual: 

Em Brasília os facilitadores do método são os padres Miguel Martins Filho, jesuíta e atual diretor do Centro Cultural de Brasília (CCB), e Óscar Martín, também jesuíta, explicaram como é a dinâmica da “Conversa Espiritual”. Segundo padre Miguel: “Não se trata de simples discussões de ideias, mas de compartilhar a partir da própria experiência espiritual a oração sobre o tema do Sínodo”. Este método foi vivido no Caribe, Equador, México e foi também aplicado na Assembleia do Cone Sul

Padre Miguel destacou que a conversa tem três rodadas e que o processo dura aproximadamente uma hora e meia. Na primeira rodada, por exemplo, todo mundo fala e todo mundo ouve. A ideia é que cada membro fale sobre os sentimentos vivenciados durante o momento de oração pessoal. “Não se trata de ideias sobre o assunto, mas de sentimentos”, acrescenta.
Em seguida, na segunda rodada, o grupo faz uma pausa para anotar o que ouviu e depois compartilhar suas impressões. “O aspecto mais importante do método é a escuta ativa e eficaz”, explicou Padre Miguel. No terceiro momento, um diálogo espiritual no qual se identificam as questões mais urgentes.

«Há três rodadas em que aprofundamos o que rezamos. O mais interessante do método é que ele não fica só nas ideias, nem na discussão de pautas e propostas; o importante é estar em movimento de escuta – escuta do Espírito. O importante é estar em movimento de escuta – escutando o Espírito. E aí vamos exercitar a capacidade de ler os sinais que a realidade nos vai trazendo, atendendo aos diferentes contextos e vivências pessoais de cada membro”, concluiu.

A metodologia da conversa espiritual, na Assembleia do Cone SUL, contou com 21 grupos, nos quais foram divididos os 180 participantes.
Fonte: informes do CELAM









sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

IV ROMARIA PELA ECOLOGIA INTEGRAL A BRUMADINHO


 Memória, Justiça e Esperança

Nos aproximamos do dia 25 de janeiro, data em que a Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, em parceria com diversos movimentos e organizações, realiza a Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, em memória das 272 joias que tiveram suas vidas precocemente ceifadas pela tragédia-crime da Vale, ocorrido em 2019. 

25 é todo dia! A romaria é também momento de denúncia da impunidade e de fortalecimento do clamor das atingidas e atingidos por justiça perante o crime e sua continuação, que segue maltratando Brumadinho e as demais comunidades da Bacia do Paraopeba.

Caminhamos como semeadores da esperança, anunciando um novo modo de vida, pautado na fraternidade e no cuidado com a nossa Casa Comum.

25 de janeiro de 2023

Participe conosco!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Nota de Repúdio dos Franciscanos e Franciscanas


O Serviço Franciscanos de Justiça Paz e Ecologia, da Conferencia da Framília Franciscana do Brasil, emitiu uma nota pública condenando os atos terroristas praticados por bolsonaristas radicais ontem, 08/01/23, em Brasília (DF). Também convida a todos e todas a participar dos diversos atos em defesa da Democracia marcados para o final da tarde de hoje, segunda, 09/01/23, em todas as capitais e principais cidades do país. Confira a nota, na íntegra: 


NOTA DE REPÚDIO DOS FRANCISCANOS E FRANCISCANAS 

"É URGENTE AGIR CONTRA A BARBÁRIE" 

Hoje assistimos, de maneira estarrecida, os atos terroristas, criminosos e premeditados de grupos bolsonaristas, em Brasília, contra as instituições dos três poderes, símbolos do Estado Democrático de Direito no país. 

É inadmissível qualquer tipo de apoio a esses atos terroristas e de desobediência civil motivados pelo resultado das urnas, descredibilizando a maior expressão democrática: o voto popular.

O reiterado uso de bandeiras e camisetas com as cores históricas do Brasil, é um desrespeito a própria noção de pátria e de nação, já que é sob esse manto que praticam atos de vandalismo e de ridicularização a toda forma de representação e poder público. 

Exigimos que todos os envolvidos neste ato em Brasília e outros, antes da posse, sejam identificados e presos, inclusive mentores e financiadores. Rememoramos, portanto, os atos nazistas em Santa Catarina, o assassinato de militantes e lideranças e o ataque a bens privados e públicos anteriores a tentativa de golpe de hoje; é nossa obrigação como nação e como cristãos que desejam a paz que só pode ser conquistada através da justiça. 

Somos contra qualquer tipo de anistia a quem atenta contra democracia. 

Como franciscanas e franciscanos, cremos que o diálogo e a concórdia são o caminho para uma sociedade onde todos terão seus direitos preservados. O terrorismo e o autoritarismo só levarão os excluídos a sofrerem mais ainda, por isso, queremos gritar: basta, sem anistia a quem atenta contra democracia! 

Convocamos todos, todas e todes, em especial a família franciscana, a agir contra toda forma de barbárie participando dos atos em Defesa da Democracia como resistência popular contra o golpe, nesse dia 09/01 às 18h em todo o Brasil

SINFRAJUPE

Serviço Franciscanos de Justiça Paz e Ecologia