quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Rejeitamos a Agricultura Climaticamente Inteligente

Durante a Cúpula das Nações Unidas Clima de 2014, em 23 de setembro, o governo holandês lançou uma Aliança Global para a Agricultura Climaticamente Inteligente. Essa Aliança Global, inclui mais de 20 governos, 30 organizações e empresas, incluindo empresas da Fortune 500 (que inclui as maiores corporações do mundo).

O Secretário-Geral Ban Ki-moon, que deu a sua bênção para a Aliança Global, disse: "Eu estou contente de ver a ação que irá aumentar a produtividade agrícola, aumentar a resiliência dos agricultores e reduzir as emissões de carbono." Esses esforços, segundo ele, irão melhorar a segurança alimentar e nutricional de bilhões de pessoas. Como a demanda por alimentos deverá aumentar 60 por cento até 2050, as práticas agrícolas estão se transformando para enfrentar o desafio da segurança alimentar para um mundo com 9,0 bilhões de pessoas, enquanto a reduzirão as emissões, afirmou.

O que está por trás:
A FAO, o Banco Mundial e os governos dos países desenvolvidos, promotores da agricultura climaticamente inteligente, como os Estados Unidos e Holanda, desenvolveram,  uma abordagem politicamente mais sofisticada para vender o conceito através de uma nova iniciativa chamada Aliança Global pela Agricultura Climaticamente Inteligente.

A agricultura enfrenta muitos desafios frente as mudanças climáticas. A agricultura é também a fonte dos gases causadores do efeito estufa. Muito das emissões de gases pela agricultura são causadas pelos métodos de produção industrial agrícola e pelos padrões de consumo dos países ricos. A agricultura em escala industrial é particularmente dependente dos fertilizantes sintéticos ao invés de compostos e adubos orgânicos. Fertilizantes sintéticos contribuem  significantemente com mais emissão de gases de efeito estufa na atmosfera do que fertilizantes orgânicos, graças às emissões durante sua produção. Na realidade, a produção global de fertilizantes sintéticos, sozinha, é responsável por 1% das emissões globais de gases.

O conceito de agricultura climaticamente inteligente foi criado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), em 2010. De acordo com a definição oficial, a agricultura climaticamente inteligente, “aumenta  a produção de forma sustentável, resiliência (adaptação), reduz/elimina a emissão de gases causadores do efeito estufa (mitigação) e reforça as conquistas de segurança alimentar e os objetivos de desenvolvimento nacionais.” Entretanto, organizações da sociedade civil criticaram esse conceito desde os primeiros dias, chamando atenção para a ênfase no material promocional da FAO e do Banco Mundial para um financiamento “climaticamente inteligente” vindo, principalmente, por meio da medição e da mercantilização do carbono do solo, que seria então vendido e comercializado em mercados de carbono.

Em vez disso, o foco deveria estar nos métodos de agricultura ecológica baseados no respeito pelo conhecimento agrícola nativo e local, na proteção dos ecossistemas e na preservação da biodiversidade. O controle dos alimentos em mãos locais já demonstrou aumentar a produtividade e, mais importante, é uma maneira de os agricultores se adaptarem e mitigarem a mudança climática de forma eficaz.

Sugerimos a leitura de: 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Desafio é construir unidade de juventude e sindicatos pela Constituinte

Por Ricardo Gebrim, dirigente da Consulta Popular e 

A construção de uma candidatura presidencial é sempre um problema para a classe dominante, por mais restrita que sejam nossa democracias. Em primeiro lugar, porque as verdadeiras intenções programáticas nunca podem ser reveladas, exigindo um esforço artístico para camuflá-las. Porém, o problema maior é sempre a escolha de um candidato.
Uma simples pesquisa na internet em edições antigas dos principais jornais brasileiros mostra que praticamente todos os analistas políticos previam que o vitorioso nas primeiras eleições diretas presidenciais seria Ulisses Guimarães, do PMDB.
Em janeiro de 1989, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) financiou uma pesquisa denominada “Projeto Leader” com o objetivo de “traçar o perfil de um candidato à Presidência da República que representasse os anseios da sociedade” e “entre os nomes que estavam sendo cogitados, qual deles correspondida à expectativa dos eleitores”.
Construção de um candidato
O resultado acendeu a luz amarela. As conclusões são bem interessantes: “O clima geral favorece um candidato com retórica populista, capaz de identificar-se com os problemas populares; o candidato deveria ser sensível ás questões relativas à justiça social. O candidato não poderia ser velho, caracterizar-se como um político tradicional nem deve estar associado à Nova República. O candidato deveria ser jovem, ter ideias novas, identificar-se com o futuro, com soluções inovadoras. O eleitor buscará uma personalidade honesta e que demonstre ser competente. Estará em alta o comportamento ético, prevalecendo traços moralistas ”.
Definitivamente, não poderia ser Ulisses Guimarães… Em fevereiro de 1989, as pesquisas mostravam Collor com apenas 2% das intenções de votos. O elemento da “virada política” ocorre em março, quando as pesquisas mostram Lula com 15% e Brizola com 17%. Começou o pânico.
O PT havia aprovado seu programa democrático popular em 1987, com medidas como a estatização do setor financeiro e da grande mídia, reforma agrária e diversos outros itens de mudanças estruturais. A ideia de um segundo turno entre Lula e Brizola aterrorizou o “andar de cima”.
Era preciso construir uma solução. Tão rápido quanto a mudança de posição política nas manifestações de junho de 2013, a grande mídia operou unitariamente a construção de um novo produto que atendesse o anseio das pesquisas. Publicitários qualificados construíram em poucas semanas o “fenômeno Collor”, “Jovem Caçador de Marajás”.
Foi uma jogada de risco. Eleger como Presidente da República um jovem playboy, de família tradicional, cuja carreira havia sido construída com as benesses da ditadura… Um grande desafio para testar a eficácia dos poderosos meios de comunicação.
Não era algo novo em nossa história. A postura pragmática de investir num candidato temerário, sem um histórico claro de serviços prestados à classe dominante, mas com viabilidade eleitoral já havia sido testada na eleição de Jânio Quadros em 1960, com a então maior votação de nossa história. Dessa lembrança fica o ensinamento sobre a capacidade dos aparatos dominantes em construir, num curto período, uma imagem política que se enquadre na moldura das pesquisas de opinião.
É com esta classe dominante, bem aparelhada de mecanismos de propaganda de massa e hegemônica no Congresso Nacional, que estamos lidando. Com ela, toda a capacidade e experiência conspirativa dos aparatos que implementam a política externa dos EUA. Somente os muito ingênuos ou perdidos politicamente podem achar que os EUA não moverão peças em nossas eleições ou tratariam a campanha presidencial com uma disputa inter-burguesa indiferente.
Quadro geral
Mas isso é apenas recordação histórica para aprendermos com o modo de ação do inimigo. O que realmente importa é o cenário no qual ocorrem nossas eleições gerais. Os dados recentes divulgados pelo IBGE sugerem um quadro de recessão econômica. Mesmo os analistas mais otimistas, que contam com as possibilidades geradas pelo pré-sal e a nova fase de obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) são extremamente cautelosos em relação aos próximos anos.
A combinação de quadro recessivo na economia com eleições é sempre perigosa. Mais três fatores se somam a esse cenário:
1-O primeiro é a manutenção de um sistema político que favoreceu a ampliação desproporcional de todos os setores burgueses no Congresso Nacional, gerando uma correlação de forças na esfera parlamentar, que desequilibra a chamada frente neodesenvolvimentista (aliança política não formalizada entre setores da burguesia nacional e a classe trabalhadora organizada).
2-O segundo foi a ausência de uma perspectiva de organização de massas ao longo dos governos petistas de Lula e Dilma, gerando uma juventude proletária que – -mesmo se beneficiando desse período, não se reconhece no governo – exige legítimos avanços e pode ser disputada pela direita. O resultado é que hoje temos uma juventude beneficiada por programas de ensino como o ProUni que nem mesmo apoia outros programas como o Bolsa Família ou o Mais Médicos e vice versa.
3-O terceiro é a perda da classe média tradicional (ou classe média alta, segundo algumas classificações). Tais setores médios sentiram-se os menos beneficiados pela gestão petista e alimentam uma crescente insatisfação difusa. Os grandes meios de comunicação são muito eficazes na alimentação do rancor desse setor social. Não será fácil desenvolver medidas que recuperem tais parcelas a curto e médio prazo. Leia a matéria completa »
FONTE: ESCREVINHADOR

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

PELO AFASTAMENTO DO DEPUTADO LEONARDO QUINTÃO (PMDB-MG) DA RELATORIA DOS PROJETOS DE LEI SOBRE O NOVO CÓDIGO DA MINERAÇÃO

PELO AFASTAMENTO DO DEPUTADO LEONARDO QUINTÃO (PMDB-MG) DA RELATORIA DOS PROJETOS DE LEI SOBRE O NOVO CÓDIGO DA MINERAÇÃO


As entidades abaixo assinadas apoiam o mandado de segurança impetrado no Superior Tribunal Federal – STF, solicitando que o relator dos PLs 5807/2013 e apensos, que tratam do novo marco regulatório da mineração, o Deputado Federal Leonardo Quintão (PMDB-MG), seja afastado da relatoria, pois o mesmo viola os princípios da República, da Democracia e da Igualdade Política, previstos na Constituição Federal, bem como o Artigo 5º, Inciso VIII, do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, que afirma ser quebra de decoro:


“relatar matéria submetida à apreciação da Câmara dos Deputados, de interesse específico de pessoa física ou jurídica que tenha contribuído para o financiamento de sua campanha eleitoral;”

Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, o deputado Leonardo Quintão recebeu cerca de 20% de suas doações da campanha de 2010 de empresas ligados ao setor mineral. Dessa forma, o deputado estaria impedido de relatar o marco regulatório da mineração, matéria que, evidentemente, é do interesse específico dos seus financiadores de campanha.

Esta iniciativa vem se somar a outras que buscam criar uma relação cada vez maior de independência entre o poder econômico privado e o poder político, como a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) n.º 4.650 que está sendo julgada pelo STF, na qual a maioria dos Ministros já se manifestou a favor do fim do financiamento privado de campanhas por empresas.

Solicitamos ao Ministro Luiz Fux que acate o mandado de segurança encaminhado ao STF e que faça prevalecer os interesses republicanos frente ao poder econômico das empresas mineradoras, garantindo-se a imparcialidade na condução dos Projetos de Lei referidos acima.

ASSINAM:
Abrace a Serra da Moeda
Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade - AFES
Articulação Antinuclear Brasileira 
Articulação dos Atingidos pela Mineração do Norte de Minas – MG 
Articulação Mineira de Agroecologia – AMA 
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB 
Ame a Verdade
Associação Comunitária Nascentes e Afluentes Serra do Caraça
Associação de Conservação Ambiental Orgânica – Acaó/MG
Associação Alternativa Terrazul 
Associação Brasileira de Reforma Agrária 
Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça e Cidadania
Associação Para a Recuperação e Conservação Ambiental - ARCA AMASERRAa 
Associação Defensores da Terra 
Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária – AMAR 
Associação Flora Brasil
Associação de Proteção ao Meio Ambiente - APROMAC 
Associação de Saúde Ambiental – TOXISPHERA 
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – (APREMAVI – SC)
Associação Mar Brasil 
Associação Mineira de Defesa Ambiental - AMDA
Associação Mico-Leão-Dourado
Associação Movimento Ecologico Carijós – AMECA 
Associação do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de Belo Vale (APHAA-BV) 
Associação Raízes do Semiárido
Associação Rosa do Ventos
Associação PRIMO - Primatas da Montanha 
Auditoria Social 
Bicuda Ecológica 
Brasil Pelas Florestas 
Brigadas Populares 
Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de MG 
CEPASP – PA 
Cáritas Diocesana de Sobral – CE 
Cantos do Mundo 
Consulta Popular 
Conselho Indigenista Missionário – CIMI 
Comissão Paroquial de Meio Ambiente – CPMA 
Comissão Pró Índio de São Paulo
Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém
Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ 
Campanha contra o Mineroduto da Ferrous
Centro de Estudos Socioambientais 
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENEPA 
Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata – CTA-ZM
Central Única dos Trabalhadores – CUT 
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNTI 
CSP-Conlutas 
Crescente Fértil
Comissão Pastoral da Terra – CPT 
Conselho Pastoral dos Pescadores 
Evangélicos Pela Justiça 
ECOA
Fase
Fase Bahia 
FBOMS 
Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento - Formad
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social 
Frente de Luta pelos Direitos Humanos 
Fórum Carajás 
Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente da UFMA (GEDMMA) 
Grupo Pau-Campeche – GPC 
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte - GPEA/UFMT
Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental 
Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá 
Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (Angá) 
Greenpeace 
Hutukara Associação Yanomami (HAY)
Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade
Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica 
Instituto Brasileiro de Educação Integração e Desenvolvimento Social - IBEIDS 
Instituto de Estudos Ambientais – Mater Natura
Instituto Ecoar para Cidadania
Instituto Caracol - IC 
Instituto Floresta Viva
Instituto Goiamum
Instituto Socioambiental – ISA
Instituto Silvio Romero 
Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC 
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ibase 
Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ
Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS 
Instituto Terra de Proteção Ambiental
Instituto Uiraçu
Justiça nos Trilhos 
Juventude Atingida pela Mineração - PA e MA 
Juventude Franciscana do Brasil – JUFRA 
Justiça Global 
Levante Popular da Juventude 
Mira Serra
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra - MST 
Movimento Nacional pela Soberania Popular frente à Mineração - MAM 
Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB 
Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA 
Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM) 
Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela 
Movimento de Mulheres Camponesas - MMC 
Movimento Xô Mineradoras
Movimento Xingu Vivo Para Sempre
Movimento de Mulheres Transamazônica e Xingu 
Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça e Cidadania
Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté - MACACA (Caeté/MG) 
Movimento Verde – MOVE 
Marcha Mundial de Mulheres 
Nos Ambiente
Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) – UFSJR 
Pastoral da Juventude Rural - GO 
Pedra no Sapato 
Pastorais Sociais / CNBB 
Rede Ambiental do Piauí - REAPI
Rede de ONGs da Mata Atlântica
Rede Brasileira de Justiça Ambiental 
Rede Cearense de Juventude pelo Meio Ambiente – RECEJUMA 
Rede Axé Dudu 
Rede Brasileira de Ecossocialistas 
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental – REMTEA 
Rede Causa Comum 
SAVE Brasil
Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia - SINFRAJUPE 
Sindiquimica - PR 
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Simonésia - MG
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha - MG 
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás – PA 
Sindicato Unificado da Orla Portuária - SUPORT ES 
Serviço Interfranciscano de Ecologia e Solidariedade – SINFRAJUPE 
Sindicato Metabase Inconfidentes
Sociedade Brasileira de Espeleologia – SBE 
SOS Serra da Piedade (MG) 
Vale Verde Associação de Defesa do Meio Ambiente – SJC/SP
VIVAT International

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Para garantir acesso à moradia adequada, governantes terão de enfrentar especulação imobiliária

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 Por Isabela Vieira, da Agência Brasil,
As desapropriações de casas para dar lugar a obras de mobilidade urbana e as frequentes ocupações de imóveis vazios nos grandes centros trazem à tona o problema do acesso à moradia adequada. As manifestações de 2013 trouxeram o tema para o debate, que chega agora às campanhas eleitorais. O país tem um déficit de 5 milhões de habitações, segundo cálculos do Ministério das Cidades. Especialistas em urbanismo ouvidos pela Agência Brasildefendem que esse problema não será resolvido apenas com a construção de casas e que será preciso enfrentar a especulação do mercado imobiliário.
Para Guilherme Boulous, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a falta de moradia aumenta à medida que sobem os preços do aluguel. Segundo ele, a construção de casas por governos, no ritmo atual, é insuficiente para atender a todas as famílias que precisam de um novo lar e pouco influencia na queda do valor dos aluguéis.
“A valorização imobiliária da cidade de São Paulo, nos últimos cinco anos, foi de mais de 130% e, no Rio de Janeiro, de 200%”, disse, sobre o impacto dos aumentos no aluguel. “É um barril de pólvora que uma hora ia explodir. É uma valorização imobiliária sem regulação de mercado ou [sem] assistência social para quem sempre dependeu de pagamento de aluguel para ter onde viver.”
Em um prédio abandonado do INSS na Cinelândia, no centro do Rio, a Ocupação Manuel Congo é habitado por cerca de 50 famílias. Foto de Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 6,1 milhões de imóveis vagos. O MTST defende uma política nacional de desapropriação e reforma desses imóveis, para que cumpram a função social e não sirvam apenas à especulação de preços. O movimento propõe também uma nova lei do inquilinato, que limite os reajustes do aluguel. “As famílias não conseguem mais pagar, o aluguel se tornou um estorvo”, destacou Boulous.

A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Paula Santoro acrescenta que as atuais políticas habitacionais – a construção de casas populares e o aumento do teto do financiamento para a classe média – estão baseadas em regras de mercado. Ela avalia que as medidas favorecem apenas aqueles que lucram com o alto preço dos imóveis. Com mais crédito disponível, o mercado tende a aumentar os valores cobrados.
Já as casas construídas para os pobres, segundo ela, acabam sendo vendidas para quem tem um pouco mais de renda, porque as famílias de classes mais baixas, com orçamento apertado, não conseguem assumir o financiamento.
“Se a política do governo federal fosse de locação social, por exemplo, se houvesse parceria entre os governos estadual e federal dava para financiar o aluguel social”, disse. Neste caso, explica Paula, não haveria financiamento de imóveis que seriam alugados a baixo custo pelo governo às famílias. “Então, se o governo cobra R$ 400 de pessoas de baixa renda, o mercado privado, que aluga hoje por R$ 800 para pessoas na mesma faixa de renda, vai ter que baixar seus preços.”
Políticas de aluguel social estão previstas no Estatuto da Cidade e poderiam beneficiar famílias em dificuldade financeira por desemprego, problemas de saúde, além de atender à população em situação de rua, acrescenta a professora da USP.
Outro mecanismo previsto no estatuto e mencionado pelos especialistas ouvidos pelaAgência Brasil é a destinação para a moradia popular de unidades construídas em novos imóveis particulares residenciais, independentemente do bairro. Essa modalidade já foi adotada em grandes cidades como Londres (Inglaterra) e Bruxelas (Bélgica), onde todos os prédios são obrigados a repassar unidades à habitação popular.
Segundo o professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Orlando Alves dos Santos Jr., a medida é uma forma de romper com o “apartheid” entre os bairros e promover “cidades misturadas”, tirando os pobres de bairros sem infraestrutura.
“O maior acesso à renda permite às famílias comprar bens de consumo como geladeiras, computadores e automóveis, mas não garante o acesso automático a bens coletivos fundamentais como mobilidade, saneamento e moradia”, disse Santos Jr., que é pesquisador do Observatório das Metrópoles.
Para o desenvolvimento do país, defende ele, é preciso pensar a organização das cidades. “Não dá para reduzir a moradia a uma questão quantitativa. E isso não se faz sem enfrentar o mercado imobiliário”, destaca.

Coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLP), Elisete Napoleão, é uma das moradoras da Ocupação Manoel Congo
Coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Elisete Napoleão, é uma das moradoras da Ocupação Manuel Congo. Foto de Fernando Frazão/Agência Brasil
Parcerias entre o Poder Público e organizações da sociedade também podem assegurar o direito à moradia, na avaliação do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM). No Rio de Janeiro, os moradores da Ocupação Manuel Congo vão reformar o imóvel onde estão cerca de 50 famílias, por meio de uma das modalidades do Minha Casa, Minha Vida. Vazio, o prédio, localizado na área central da cidade, foi desapropriado para receber os novos moradores. Lá, eles se juntaram para arcar com os custos.

“O condomínio sai do trabalho coletivo. Criamos um fundo em que todos contribuem e no final do mês a gente abate das contas”, explicou a coordenadora do MNLM, Elisete Napoleão, que mora no local. Funcionam no prédio cooperativas para serviços de bufê (quentinhas e festas) e uma estamparia. “As pessoas na Manuel Congo estavam desempregados ou em subempregos e hoje temos trabalho, escola e saúde, porque estamos perto da cidade, perto de tudo”, destacou Elisete.
De acordo com a coordenadora, o Poder Público deve aproveitar os espaços vazios nas cidades para dar moradia às famílias. “No geral as famílias mais pobres vivem em favelas, em locais indignos, com pouca ventilação, difícil de subir ou na beira de rio, não são adequados. Outras famílias, com um pouco mais de renda, pagam um aluguel absurdo”, concluiu.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Marco Regulatório da Mineração é debatido na Câmara dos Deputados

A construção de um novo modelo de mineração no país que contemple o controle social dos cidadãos das áreas afetadas e que seja sustentável ecologicamente foi proposta por sindicalistas, expositores e trabalhadores do setor em audiência pública promovida nesta terça-feira (2/9) pelas Comissões de Legislação Participativa e de Direitos Humanos e Minorias. As propostas apresentadas serão encaminhadas pelas comissões para aproveitamento no processo legislativo. Além do que foi discutido na audiência, os trabalhadores querem influir sobre o que dispõe o texto substitutivo ao projeto de "Código da Mineração" (PL 5807/13), que tramita na Câmara. Para isso,pretendem promover uma primeira Conferência Nacional da Mineração.
Banco de Imagens/Câmara dos Deputados/Lucio Bernardo Jr
Impactos sociais e ambientais do modelo minerador são denunciados; sindicalistas pedem mudanças no marco regulatório
Audiência pública debateu condições sociais, econômicas e ambientais do modelo de mineração praticado no pais
Luis Guimarães e Lúcio Pimenta, representantes de comunidades mineiras atingidas pela atividade empresarial de extração de minérios, denunciaram a conduta “predatória" e 'truculenta” das empresas sobre antigos moradores locais. “As negociações se dão conforme a capacidade econômica do morador”, disse Luis Guimarães.
O frei Rodrigo Peret disse aguardar que a proposta do novo Código da Mineração contemple normas e diretrizes que imponham respeito à integridade dos povos, culturas tradicionais e ao meio ambiente. O religioso afirmou que as empresas mineradoras agem com “perversidade” sobre os povos e à natureza. “Vão fazendo com que os homens se tornem estranhos à própria terra.” Frei Peret informou que a Igreja Católica trabalha para disseminar junto às pastorais a realidade que vem sendo praticada pelas mineradoras junto às populações. “É preciso que o povo brasileiro tome consciência dessa realidade predadora”, afirmou.
O ambientalista Gustavo Gazinnelli apresentou críticas ao novo “Código de Mineração” proposto em Substitutivo. Para ele, é absurdo nivelar a atividade de exploração mineral como se tivesse perfil “único” no território nacional Ele propõe o controle social e a absoluta transparência sobre a Agência Nacional de Mineração a ser criada. Gustavo propõe ainda que a atividade mineradora sofra redutores em ambientes já longamente explorados.
Outra denúncia ambiental apresentada na audiência pública é referente à enorme quantidade de água empregada pelos chamados “minerodutos” para o transporte dos minérios, em uma época em que há uma forte crise de gerenciamento hídrico na região Sudeste do país.
Saúde e segurança do trabalho
Pela manhã, foram discutidas condições de saúde e segurança do trabalho na mineração brasileira. Pesquisa inédita foi apresentada pelo Fundacentro, reunindo dados dos ministérios da Saúde, do Trabalho e Emprego e da Previdência Social.
O pesquisador Celso Salim, da Fundacentro, explicou que a pesquisa envolveu 34 municípios de Minas Gerais, na região conhecida como "Quadrilátero Ferrífero". Para ele, se trata de uma primeira iniciativa dentro de um setor ainda sem estatísticas de saúde e segurança do trabalhador. Paula Werneck, também pesquisadora da fundação, destacou as perdas de audição diagnosticadas, além dos traumas verificados em mãos e pés.  O alto índice de redução auditiva além de provocar problemas de socialização para o trabalhador, não lhe garante a aposentadoria, informou a pesquisadora.
Celso Salim apresentou ainda valores do prejuízo econômico das doenças na atividade mineradora, estimado em R$ 71 bilhões. Já os prejuízos sociais são o desamparo, a dependência e a exclusão social. Para o pesquisador, “a atividade mineradora brasileira ignora os direitos sociais.” O pesquisador citou ainda os números da mortalidade de trabalhadores em mineração, superiores em mais de três vezes à média nacional.
A médica Andreia Silveira, da Universidade Federal de Minas Gerais, afirmou que a pesquisa é importante porque localiza o problema. Para ela, a pesquisa é um primeiro passo no sentido de traçar uma política pública para a saúde e a segurança do trabalho do minerador.  A engenheira de segurança Marta Freitas, da Confederação nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), disse que a pesquisa permite traçar "um perfil do adoecimento". Ela destacou ainda que a compatibilização dos dados de diversos ministérios evidenciou que há grande subnotificação do número de acidentes e doenças à autoridade previdenciária, em prejuízo dos trabalhadores.
Para o militante José carlos do Vale, que informou ter deixado a luta sindical no setor, predominam as  relações de informalidade no trabalho de mineração, beirando o patamar dos 70%. Para ele, a subnotificação previdenciária constitui-se em sonegação fiscal. Com o que cclassifica como “judicialização” das ações previdenciárias, “é a sociedade quem paga, o que deveria estar sendo pago pelo empresário”, afirmou.     
Para o deputado Amauri Teixeira, do PT baiano, três desafios estão colocados ao país diante de uma atividade empresarial de mineração bastante agressiva: a identificação de situações de risco e a preservação da saúde do trabalhador, a preservação do meio ambiente, e a geração de riquezas e manutenção de atividade produtiva diversa na região onde a mineração predomina como atividade econômica.
O diretor presidente da empresa mineradora Vale, Murilo Ferreira, foi convidado e sua empresa informou que ele não poderia comparecer. A audiência pública foi presidida pelo deputado Nilmário Miranda (PT-MG).

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Bispos emitem mensagem sobre Reforma Política no Brasil

Durante coletiva de imprensa, que marcou o encerramento da reunião do Conselho Episcopal de Pastoral (Consep), a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou mensagem sobre a Reforma Política. Os bispos reconhecem que “uma verdadeira reforma política melhorará a realidade política e possibilitará a realização de várias outras reformas necessárias ao Brasil, por exemplo a reforma tributária”.
A CNBB recorda que “várias tentativas de reforma política foram feitas no Congresso Nacional e todas foram infrutíferas”. Diante disso, une-se a outras entidades e ao povo brasileiro na mobilização Reforma Política Democrática no país.
Abaixo, a íntegra do texto:

Brasília, 29 de agosto de 2014

Mensagem sobre a Reforma Política

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, atenta à sua missão evangelizadora e à realidade do Brasil, reafirma sua convicção, como muitos segmentos importantes da sociedade brasileira, de que urge uma séria e profunda Reforma Política no País. Uma verdadeira reforma política melhorará a realidade política e possibilitará a realização de várias outras reformas necessárias ao Brasil, por exemplo a reforma tributária.
Esclarecemos que este Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política não está vinculado a nenhum partido político, tão pouco a nenhum candidato a cargos políticos eletivos, embora não haja restrição do apoio de bons políticos do Brasil.
Várias tentativas de reforma política foram feitas no Congresso Nacional e todas foram infrutíferas. Por isto, estamos empenhados numa grande campanha de conscientização e mobilização do povo brasileiro com vistas a subscrever o Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política Democrática, nº 6.316 de 2013, organizado por uma Coalizão que reúne uma centena de Entidades organizadas da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Movimento contra a Corrupção Eleitoral (MCCE) e a Plataforma dos Movimentos Sociais.
O Projeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política Democrática se resume em quatro pontos principais: 1) O financiamento de candidatos; 2) A eleição em dois turnos, um para votar num programa o outro para votar numa pessoa; 3) O aumento de candidatura de mulheres aos cargos eletivos; 4) Regulamentação do Artigo 14 da Constituição com o objetivo de melhorar a participação do povo brasileiro nas decisões mais importantes, através do Projeto de Lei de Iniciativa Popular, do Plebiscito e do Referendo, mesclando a democracia representativa com a democracia participativa.
Durante Semana da Pátria, refletiremos sobre nossa responsabilidade cidadã. Animamos a todas as pessoas de boa vontade a assinarem o Projeto de Lei que, indubitavelmente, mudará e qualificará a política em nosso País. A Coalizão pela Reforma Política e a coordenação do Plebiscito Popular coletarão assinaturas e votos, conjuntamente. Terminada a Semana da Pátria, cada iniciativa continuará o seu caminho.
Trabalharemos até conseguirmos ao menos 1,5 milhões de assinaturas a favor desta Reforma Política.
“No diálogo com o Estado e com a sociedade, a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas. Mas, juntamente com as várias forças sociais, acompanha as propostas que melhor correspondam à dignidade da pessoa humana e ao bem comum. Ao fazê-lo, propõe sempre com clareza os valores fundamentais da existência humana, para transmitir convicções que possam depois traduzir-se em ações políticas” (Evangelii Gaudium, 241).
A Nossa Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira do Brasil, suplicamos que leve a Jesus as necessidades de todos os brasileiros. E Ele, com toda certeza, nos atenderá. “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).
FONTE:CNBB

Na Igreja, mulheres podem escrever regras (normas)? Santa Clara de Assis escreveu

st claraApesar de já terem passado sete séculos, Santa Clara de Assis continua a ser reverenciada por sua piedade e pobreza. Talvez ela também deva ser reverenciada por sua escrita.
A opinião é de Nicole Sotelo, autora de Women Healing from Abuse: Meditations for Finding Peace (Paulist Press), coordenadora do sítio www.WomenHealing.com e, atualmente, trabalha para a organização leiga norte-americanaCall To Action. O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 28-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
A história nos diz que o Papa Gregório IX escreveu as primeiras orientações para as mulheres da comunidade de Santa Clara. Mas depois Clara tomou as coisas em suas próprias mãos.
Na verdade, os historiadores católicos consideram Santa Clara a primeira mulher a escrever uma regra, ou um conjunto de diretrizes, para a sua comunidade religiosa. Numa época em que a maioria das comunidades religiosas viviam de acordo com regras escritas por homens, a decisão deClara de compor uma regra para sua própria comunidade foi um gesto ousado.
Ele também nasceu por necessidade. Tanto os homens quanto as mulheres das primeiras comunidades franciscanas sentiam que uma resposta autêntica do Evangelho não podia ser vivida sob as regras comuns de seu tempo.
Soa familiar? Sim, é. Pergunte a uma religiosa, hoje, e você provavelmente vai ouvir um sentimento semelhante. As "caixas" em que o Vaticanogostaria de colocá-las não permitem que muitas irmãs respondam plenamente ao chamado do Evangelho. Então, depois de uma vida inteira de experiência, as religiosas começaram a escrever um novo caminho com suas vidas.
Seus caminhos não acontecem sem consequências. O mesmo valeu para Santa Clara.
Sua decisão de escrever uma regra foi uma ruptura radical com as normas religiosas de seu tempo. Só depois de muita persistência, o Papa Inocêncio IV a aprovou dois dias antes de sua morte em 11 de agosto de 1253.
Deve-se notar que Clara não compôs a sua própria regra sem receber a colaboração de outros. Enquanto escrevia uma nova maneira de viver na história religiosa, sua voz estava em diálogo com a comunidade com a qual ela tinha crescido espiritualmente. Ela modelou muito a sua regra nas diretrizes austeras e igualmente novas da comunidade de Francisco, reformulando-a para melhor ajustar-se à experiência feminina.
A regra de Clara mostra o bem que vem de um diálogo saudável entre mulheres e homens. Ela é um modelo para os nossos tempos.
Na verdade, na regra de Clara, encontramos dois fragmentos escritos pelo próprio Francisco que ela incorporou em sua própria escrita. O segundo fragmento grava seu último desejo para a comunidade de Santa Clara: "Eu, irmãoFrancisco, (...) vos rogo, senhoras minhas, e vos aconselho a que vivais sempre nessa santíssima vida e pobreza".
Ele não enfatizou hábitos, claustros ou conformidade. Eram somente a vivência do Evangelho e a santa pobreza que, no fim, importava a São Francisco.
A última frase de seu desejo diz: "E guardai-vos bastante de vos afastardes dela de maneira alguma pelo ensinamento de quem quer que seja".
Talvez Francisco antecipasse que essas mulheres ousadas seriam desafiadas mais tarde pelas autoridades da Igreja em seu modo de vida. Na verdade, elas foram.
Alguns anos após a morte de Clara, o Papa Urbano VI encarregou um cardeal com a escrita de uma nova regra para aOrdem de Santa Clara. Parece que regras radicais escritas por mulheres geraram controvérsia há 700 anos. Mulheres que escrevem regras ainda o fazem.
Só podemos esperar que as autoridades do Vaticano hoje sob a direcão do Papa Francisco tenham coragem, como o Francisco original, para confirmar os esforços das religiosas de responderem ao Evangelho. Os métodos das religiosas podem parecer diferentes do que prevê o Vaticano, mas assim também foram os métodos franciscanos há tantos séculos.
Graças a Deus por Santa Clara, que pavimentou e escreveu o caminho para que as mulheres respondessem ao Evangelho com sua própria voz. Graças a Deus pelas religiosas dos Estados Unidos, que procuram fazer o mesmo hoje.
FONTE: IHU

“Nova política” oferece aos jovens o pão que o diabo amassou em forma de arrocho e desemprego -

Jovens, vocês querem mesmo Marina?

por Gilson Caroni Filho, especial para o Viomundo

 A simples leitura do programa de governo de Marina da Silva que, como todos sabem, foi escolhida pela “providência divina” e os acontecimentos recentes envolvendo as alterações no seu programa partidário permitem levar ao eleitorado jovem pontos fundamentais que revelam a natureza extremamente conservadora. Comecemos pelas questões macroeconômicas:

1) Marina pretende dar autonomia ao Banco Central, o BC. O que significa isso? Entregar o banco ao mercado financeiro. Não por acaso conta com o apoio de banqueiros em sua campanha.
2) No documento, consta que políticas fiscais e monetárias serão instrumentos de controle de inflação de curto prazo. Como podemos ler este ponto? Arrocho salarial e aumento nas taxas de desemprego.
3) O programa ainda menciona a diminuição de normas para o setor produtivo. Os mais açodados podem pensar em menos carga tributária e burocracia para as empresas. Não, trata-se de reduzir encargos trabalhistas com a supressão de direitos que facilitem as demissões. Há muito que a burguesia patrimonialista pede o fim da multa rescisória de 40% a ser paga a todo trabalhador demitido sem justa causa. O capital agradece.
4) Redução das prioridades de investimento da Petrobrás no pré-sal. O que significa? Abrir mão de uma decisão estratégica de obter investimentos para aplicar na Saúde e na Educação. Isso, meus amigos mais jovens, é música para hospitais privados, planos de saúde e conglomerados estrangeiros que atuam na educação. O que o grupo Galileo fez com a Gama Filho e Univercidade , aqui no Rio, é fichinha perto do que está por vir. Era com uma coisa desse tipo que vocês sonhavam quando foram às ruas em junho do ano passado?
5) Em vez do fortalecimento do Mercosul, o programa da candidata, que ” quer fazer a nova política,” prega o fortalecimento das relações bilaterais com os Estados Unidos e União Europeia.Vamos retroceder vinte anos e assistir a um aumento da desnacionalização da economia latino-americana. É isso que vocês querem?
6) Meus caros amigos, não sei se foi a providência divina quem derrubou o avião em que viajava Eduardo Campos. Mas o que a vice dele, uma candidata que está à direita de Aécio Neves, lhes oferece é o pão que o diabo amassou. Gosto da vida, gosto da juventude, mas, agora, cabe a vocês escolher o que desejam enfiar goela adentro. Não há mais ninguém inocente.

No campo dos costumes, cabem outras indagações. O Partido Socialista Brasileiro, que sempre teve uma agenda progressista, foi criado em 1947.

Ao ceder a pressões para lançar a candidatura de Marina da Silva, acabou. No lugar dele, surgiu um PSB capturado pelo “Rede” da candidata do Criador.

Pois bem, bastaram quatro tuitadas do Pastor Malafaia para o partido retirar de seu programa de governo o casamento civil igualitário. Se em quatro mensagens por twitter houve um retrocesso desse porte, imaginem em quatro anos de um eventual governo do consórcio Itaú-Assembléia de Deus. Descriminalização do aborto? Esqueçam. Descriminalização dos usuários de drogas? Nem pensar. No mínimo, procedimentos manicomiais para os dependentes. Pensem nos direitos conquistados pelas mulheres nos últimos anos sendo submetidos ao crivo de dogmas medievais. Nos homossexuais como anomalias apenas “toleradas”, jamais como sujeitos de direitos.

Sim, pois vislumbramos uma religião se transformando em política de Estado.
 É isso que vocês querem para o país? É isso que vocês querem para suas vidas e a dos filhos que vierem a ter? Em caso afirmativo, chamem Torquemada e me avisem: não quero ver ninguém ardendo em fogueiras. Tudo é força, mas só Malafaia é poder. Não acredito que vocês desejem isso. Melhor, não quero acreditar.
FONTE:VIOMUNDO