quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Lembrando São Francisco

Dom Héder Camara
Que pena eu sinto de quem atravanca e atropela de tal modo a vida que nunca descobre tempo de parar diante de uma árvore, ou de assistir a uma aurora ou a um pôr-do-sol...

Faz falta! Não dispõe de tempo para contemplar o vôo das aves e para escutar o canto dos passarinhos.

O pior é que a criatura humana, chamada pelo Criado a participar de sua inteligência divina e de seu poder criador, esmaga a natureza, ao invés de conviver com ela... Haja vista a poluição das águas, da terra, do ar...
A poluição das águas mata os rios e as lagoas, mata os peixes e os pescadores, que ficam sem comida, sem o ganha-pão para a família.

S. Francisco, como imitador extraordinário de Cristo, deu exemplo de um profundo amor pela pobreza. Mas ele jamais chamaria a miséria de irmã. A miséria esmaga filhas e filhos de Deus, e é um insulto ao Criador e Pai.

Um dos grandes pecados sociais dos nossos tempos consiste na aberração de morrerem, todo ano, de fome, no mundo, milhões de criaturas humanas.

E isto se passa quando o progresso tecnológico e o avanço eletrônico fornecem ao homem de hoje possibilidade plena de eliminar a miséria na terra.

Ao invés disso, a corrida armamentista fornece ao homem de hoje mais de 40 vezes o necessário para suprimir a vida em nosso planeta.

Mesmo que não rebente uma guerra nuclear, química ou biológica, os gasto com os armamentos modernos são tão astronômicos que tornam impossível uma superação efetiva da miséria.

Os franciscanos, dentro do mais puro espírito de S. Francisco, costumam saudar-se exclamando: “Paz e bem”.

A Igreja vem insistindo em lembrar que uma paz verdadeira e duradoura será impossível sem justiça e amor. Quem sabe, a saudação franciscana ficaria mais completa, se disséssemos: Justiça, amor e paz!
(Fonte: CÂMARA, H. Um olhar sobre a cidade. São Paulo: Paulus, 1995. p. 45-46)

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