terça-feira, 11 de julho de 2017

Projetos da Anglo ameaçam de extinção povoados inteiros, em MG


Reportagem de Ana Paula Pedrosa e Queila Ariadne, do Jornal O TEMPO, sobre conflitos sociais e impactos ambientais gerados pelo Projeto Minas Rio, da mineradora Anglo American, na região de Conceição do Mato Dentro (MG).

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO. A água de várias nascentes já sumiu. Alguns povoados, como Mumbuca e Ferrugem, desapareceram para dar lugar a projetos da Anglo American, em Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas. Outras comunidades, como São Sebastião do Bonsucesso, conhecida como Sapo, Água Quente e Passa Sete, ainda estão lá, mas parecem invisíveis. Elas não são consideradas pela mineradora áreas diretamente atingidas, no entanto a primeira está aos pés da serra para onde a mina será expandida. As outras duas, aos pés da barragem de rejeitos.

Pelo Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) do projeto Minas-Rio, a Anglo reconhece apenas duas comunidades. Segundo a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro, os impactos do empreendimento atingem 11 povoados. “O certo era retirar essas comunidades, para segurança dos moradores”, afirma o professor Mauro Lúcio da Silva, morador do Sapo.

Deixar a terra onde nasceu não é o desejo da maioria dos moradores. Entretanto, com a poeira, o barulho e o movimento pesado de máquinas que estão por vir com a expansão da mina na serra do Sapo, a alternativa passa a ser uma esperança. “Não queríamos sair, é impossível manter nossa qualidade de vida”, afirmam os irmãos Vanderley e João Simões Rosa, moradores do Sapo.

A fazenda deles está a cerca de 200 metros de onde a empresa vai construir um dique de contenção, perto da área de expansão da mina. “Hoje, nossa casa já foi toda trincada por causa de explosões e detonações. Imagina o que essa nova etapa vai trazer”, questiona João.

A família, que costumava pegar água em uma nascente próxima, hoje precisa pedir não só licença à Anglo, mas a chave da porteira colocada pela empresa no acesso a outra nascente. “A que tinha na nossa terra secou, com a descida de sedimentos. Hoje, encanamos dessa outra, só que ela fica em propriedade da Anglo. Quando entope, temos que agendar hora para um funcionário vir abrir a porteira”, lamenta Vanderley Simões.

Por meio de nota, a Anglo American explica que essas comunidades não são diretamente atingidas, mas sim vizinhos imediatos da Área Diretamente Afetada (ADA), que é o nome dado a quem vive exatamente no local onde serão instaladas as obras do “Step 3”. Portanto, Sapo, Cabeceira do Turco, Água Quente e Passa Sete estão enquadradas na Área de Influência Direta (AID).

Em relação aos diretamente afetados, a empresa afirma que já concluiu todas as negociações. Já sobre esses “vizinhos”, a Anglo criou um comitê de convivência para discutir com os moradores as medidas que garantirão a qualidade de vida na região.

A coordenadora do comitê, Sandra Celestina Stemler, avalia que, com tantos impactos, o destino do Sapo é acabar. “Água, já não temos mais a nossa, pura. A estação é abastecida por caminhão-pipa”, afirma. Ela explica que o comitê está realizando um cadastro fundiário para levantar interessados em vender as propriedades e negociar valores.
Para a primeira fase do projeto Minas-Rio, algumas comunidades tiveram que ser totalmente removidas, para segurança dos moradores. Mas agora, para o chamado “Step 3”, a Anglo American afirma que as atividades “não irão remover nenhuma comunidade e destaca que as negociações fundiárias em pontos específicos e o reassentamento das famílias que residiam nos locais já foram realizados”.
Obra: aumento da cava da mina, instalação de diques de contenção, alteamento da barragem de rejeitos, expansão da pilha de estéril, instalação do platô de apoio operacional. Previsão de terminar em 4 anos. O investimento é de R$ 1 bilhão.

Empregos: 800 vagas na implantação e cem na operação.

Capacidade da mina: 26,5 milhões de toneladas/ano.

Licenciamento: No dia 20 de julho haverá a audiência pública com a comunidade, pré-requisito para iniciar o processo de licenciamento. 

FONTE: Jornal O TEMPO

Um comentário:

  1. Que coisa mais triste. O problema é a concessão de licenciamento, em geral, aprovado por servidores corruptos suscetíveis de pressão por parte dos capitalistas. É preciso reação por parte das Comunidades atingidas, denuncias e, sobretudo, conscientização da população em geral sobre a destruição de fontes de água.

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