quinta-feira, 20 de março de 2014

Incendiado acampamento dos "Guardiães das Lagoas", luta pela água e contra a mineração no Perú


Um efetivo da Divisão de Operações Especiais – DINOES, da polícia do Peru, (polícia contratada pela mineradora Yanacocha), juntamente com seguranças privados, queimaram nesta terça-feira 18 março acampamento dos Guardiões das Lagoas (“Guardianes de las Lagunas”), no departamento de Cajamarca, no altiplano andino.

Apesar de na parte da manhã o chefe de polícia de Cajamarca admitir que o acampamento dos “Guardiões dos Lagoas” não estar localizado em terrenos de propriedade da Minera Yanacocha, minutos depois a operação começou. De acordo com Manuel Ramos, lider das “Rondas Campesinas”, cerca de uma hora da tarde, um grupo de DINOES entrou inesperadamente no acampamento e espalhou as pessoas que estavam no local com gás lacrimogêneo e balas de borracha e, em seguida , incendiaram tudo que encontraram.

O acampamento queimado, faz parte da luta contra a Mineradora Yanacocha e se localiza vizinho à lagoa Namacocha, próximo ao projeto Conga da mesma mineradora. O projeto de mineração Conga quer extrair entre 480 mil e 780 mil onças anuais de ouro e 90 mil toneladas de cobre, abrindo enormes crateras, como tem feito em áreas próximas à cidade de Cajamarca. Essa extração irá causar sérios impactos sobre a paisagem, o solo, a água, as plantas, os animais e outros componentes do ambiente.

Para extrair o ouro espalhado entre as rochas no subsolo, Conga vai destruir 28 lagoas a maioria quais na província de Celendín. Os camponeses locais, organizados no movimento “Rondas Campesinas”, assumiram a luta pelas lagoas e por suas terras, constituíram-se em “Guardiães das Logoas”, revezando no acampamento que foi queimado.

A mineradora Yanacocha diz à população que para compensar a destruição destas lagoas serão construídos quatro reservatórios ou represas onde os agricultores supostamente teriam mais água. 

Contudo o que eles não dizem é que essas lagoas e áreas húmidas não são corpos d’água isolados, mas sistemas complexos de água, uma vez que estão associados com extensas microbacias ou áreas de captação, com correntes de águas subterrâneas que alimentam as lagoas e todas as áreas húmidas são cabeceiras de várias bacias.

Na realidade, o impacto mais grave será a perda de aquíferos, não só dessas lagoas e áreas húmidas, mas a perda todas as fontes de águas superficiais e subterrâneas em toda a área de operações e áreas de águas adjacentes.


Manuel Ramos, disse que eles vão reconstruir o acampamento. "Somos prisioneiros em nossa própria terra. Suas porteiras (da mineradora) não nos deixam transitar. Se é assim, nós não deixarem que suas caminhonetes circulem", disse ele.

Em novembro de 2013 estive com um grupo de pessoas ligadas à Igreja Católica, que estão envolvidas na luta contra os impactos da mineração, visitando esse acampamento.

Uma visita que nos faz acreditar em um mundo melhor.

Presenciamos uma luta que vai muito além da busca de povos indígenas e camponeses por suas terras, culturas e direito de decidir sobre como querem viver no futuro. Se trata de uma luta pela natureza. Os "Guardiães da Lagoas" são uma realidade de amor, convivência e defesa pela Criação. Uma luta com uma cosmovisão de fraternidade universal. Eles me ensinam a ser franciscano nos dias de hoje.


Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, ofm

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