quarta-feira, 20 de março de 2013

Não fazem Reforma Agrária e agora querem acabar com a agricultura familiar

Hoje em frente aos portões do Sindicato Rural de Uberlândia, entidade historicamente contrária à Reforma Agrária e a favor do agronegócio, uma cena inusitada. Trabalhadores rurais Sem Terra e assentados de Reforma Agrária, insistiam em ser recebidos pelo Ministro Pepe Vargas do Desenvolvimento Agrário. Precisaram insistir bastante, pois o Ministério que tem por responsabilidade de atuar na agricultura familiar, no desenvolvimento territorial, crédito fundiário e na reforma agrária, estava patrocinando e promovendo um evento nas dependências e junto aos ruralista contrários à sua pasta. O ministro estava na FEMEC - Feira de Máquinas, Equipamentos, Implementos, Insumos Agrícolas e Veículos Utilitários, conhecida como o Show do Agronegócio.

O Ministério e a Prefeitura Municipal de Uberlândia são uns dos que promovem e participam da FEMEC, que conta com uma Feira da Agricultura Familiar, com apresentação de produtos do programa do Ministério do Desenvolvimento, o Feirão Mais Alimentos. Contudo, a FEMEC é um evento dirigido ao agronegócio, no espaço dos representantes do latifúndio  Com isso o ministério aponta para os agricultores familiares o que a eles é antagônico, como o caminho a ser seguido.

O agronegócio se baseia nos interesses dos grandes proprietários unidos aos de empresas transnacionais, para dominar e controlar o modo de produzir: insumos, sementes, adubos, fertilizantes, venenos, máquinas, o comércio agrícola e os preços. A agricultura familiar é um modelo que parte de outra lógica, que estabelece sistemas de convivência com a natureza. A prática agrícola familiar busca a diversidade na produção de alimentos e  a adaptação ao meio natural, possibilitando a criação de sistemas sustentáveis de produção.

O esvasiamento dos conceitos e das diferenças e disputas que existem na sociedade mascaram a realidade. Quando o ministro Pepe Vargas, finalmente, recebeu os sem terra, e foi questionado pelo fato de que o agronegócio e a agricultura familiar são incompatíveis, ele respondeu que não via nenhuma incompatibilidade. Afirmou, ainda, que seu ministério  quer aproximar e colocar a agricultura familiar em eventos do agronegócio. Assim o ministro mistifica e desagrega as relações sociais, apresentando interesses contraditórios e opostos, como sendo uma só realidade.

O agronegócio é insustentável, em termos sociais, economicos e ambientais para o agricultor familiar. A produção de alimentos, para o mercado interno, sem veneno e transgênicos  a segurança e a soberania alimentar, o uso de mão de obra, a convivência com a natureza, criam condições para a vida das pessoas no meio rural.

Às organizações e movimentos de luta pela reforma agrária e pela agricultura familiar cabe denunciar ações de governo, que buscam através da manipulação, impor um consenso passivo. Não aceitar a desconstrução do conceito e da realidade de agricultura familiar ou campesina, acumulado pelos movimentos e por uma enorme luta política da agricultura familiar.
Frei Rodrigo Péret, ofm

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