domingo, 31 de março de 2013

Terminou o FSM 2013: força da dignidade, solidariedade e articulação de lutas

A edição de 2013 do Fórum Social Mundial (FSM), terminou. O fórum foi realizado pela primeira vez na região do Magrebe, em Túnis, nos dias 26-30 março. Dois anos após a "Revolução do Jasmim", o Fórum se transformou num poio ao processo democrático na Tunísia.

A revolução na  Tunísia, que é o berço das revoltas no mundo árabe, levou ao surgimento de novos movimentos de protesto não só no norte da África e no Oriente Médio, mas influenciou também o sul da  Europa, tendo como destaque os  "indignados" na Espanha, e se espalhou até o movimento dos "occupy" nos EUA .

Além do debate sobre a situação da Primavera Árabe, outros temas também estiveram no centro dos debates. Se reafirmaram as lutas dos povos e suas organizações:

  • Contra as multinacionais e o sistema financeiro (o FMI, o BM e a OMC).
  • Pela justiça climática e a soberania alimentar
  • Contra a violência às mulheres
  • Pela paz e contra a guerra, o colonialismo, as ocupações e a militarização dos nossos territórios.
  • Pela democratização dos meios de comunicação de massa e pela construção de mídias alternativas, fundamentais para inverter a lógica capitalista. 

Destaque para os debates e painéis ligados a questão da mineração e do extrativismo, principalmente para a assembleia sobre questão da mineração. A grande preocupação dos participantes esteve voltada para os prejuízos socioambientais causados pelo crescimento acelerado da indústria extrativa. O extrativismo que não se resume só à extração de metais, mas também de petróleo, água, o extrativismo vegetal, etc...

Hoje, as grandes transacionais do setor, como a Cia Vale, do Brasil, decidem sobre o uso, manejo e gestão da natureza a partir de uma lógica capitalista predatória e desumana. Avançam sobre os territórios e terras, ameaçam a soberania alimentar, destroem as florestas, acabam com as culturas dos povos tradicionais locais, afetam o clima, dentre tanto outros impactos. Os impactos socioambientais não ficam restritos ao local da extração, mas se espalham por toda linha da cadeia que vai do local da extração, aos locais de transporte,  de beneficiamento e industrialização até o porto de exportação. 

Refletiu-se, também sobre o pós-extrativismo como conceito que se sustenta sobre a questão do inevitável esgotamento dos recursos e sobre os impactos ambientais. 

Do Fórum Social Mundial 2013, na Tunísia, fica aberto o  sentimento de encontro com o mundo árabe, sua dignidade, sua cultura, sua religião e suas lutas. Mas principalmente seu povo, seus sonhos e a busca de um mundo mais justo, fraterno e irmanado com a natureza. O Fórum se constituiu em um grande momento de solidariedade, com a revolução tunisina. Para muitos de nós, em primeiro contato com mundo árabe, foi um encontro com uma pouco conhecido, mas surpreendente. Momento de encontro real, longe dos filtros da mídia capitalista.

Nossa Delegação Internacional Franciscana se viu, com grata alegria, em meio a um povo cheio de vontade e de vida, que se orgulha de sua luta e de sua libertação. Ficarão marcados em nossos corações a vontade de um povo, movidos pelo ato de um jovem, vendedor ambulante de frutas e verduras,  Mohamed Bouazizi, de 26 anos. Esse jovem sem conseguir uma licença para trabalhar na rua, e impossibilitado de continuar pagando propinas aos fiscais, acabou por ter sua mercadoria e sua balança confiscadas. Desesperado, o rapaz ateou fogo ao próprio corpo, em frente ao palácio do ditador. 

A tragédia pessoal de Mohamed desencadeou os protestos que acabaram levando a uma onda revolucionária que envolveu toda a Tunísia e espalhou-se pelo Mundo Árabe, do Norte da África ao Oriente Médio.

A força profética, de um ato, foi a gota que faltava para derramar a força de um povo cuja dignidade não fora destruída. 
Mohamed Bouazizi o homem que despertou a "Primavera no Mundo Árabe"




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